terça-feira, 9 de outubro de 2012

Análise: O Segredo da Cabana

Cinco jovens americanos decidem se afastar do mundo e passar um fim de semana em um lugar isolado para dedicar-se a experiências que envolvem muito sexo e drogas. No caminho, encontram um homem muito estranho, que os adverte dos perigos da região. Eles vão em frente mesmo assim, sem saber que estão libertando um mal antigo e poderoso. Um a um, eles são mortos das maneiras mais sanguinolentas possíveis. No final, a última sobrevivente, uma garota completamente comum e que escapou dos últimos assassinatos correndo e gritando, consegue, de maneira inacreditável, conter a ameaça e voltar à sua vida normal. Resumido assim, temos um modelo quase universal do "terror universitário americano", consagrado na década de 1980 e que ainda dá frutos. Um olhar desatento poderia colocar O Segredo da Cabana nesse esquema. Ledo engano. Um dos filmes mais criativos dos últimos tempos, ele consegue ao mesmo satirizar esse estilo e ser um excelente trabalho de cinema de terror - um feito duplo notável.

Colaboração do diretor e roteirista Drew Goddard e do também roteirista Joss Whedon (que dirigiu, esse ano, Os Vingadores), o filme é ao mesmo tempo homenagem e crítica aos slasher movies, aquele estilo de terror com muitas mutilações, cabeças decepadas e sangue espirrando na tela - homenagem ao gênero em si e sua história, mas crítica ao que ele se tornou nos últimos anos, com roteiros genéricos e um advento do que muitos chamam de torture porn, onde os personagens são torturados para deleite do público. A distinção pode ser tênue, mas é muito clara para Goddard e Whedon, que buscam resgatar conceitos com uma atmosfera real de medo e um roteiro inteligente, que faça o espectador realmente torcer pelos personagens, e não por seu fim sangrento (ainda que eles tenham que acontecer, de qualquer forma).

No balanço de amor e ódio, O segredo da cabana é um filmaço de terror, do tipo que é melhor não adiantar qualquer coisa da história e deixar o espectador juntar as peças conforme assiste. Basta dizer que está perfeita a combinação entre terror, suspense e comédia (não se pode nem dizer alívio cômico - apesar de ter uma trama "séria", o longa usa a comédia quase como um elemento de ligação do roteiro, um humor negro muito satírico e com uma mensagem bastante interessante por trás). Fica claro que, no fundo, por trás do filme existem dois apaixonados pelo terror, e alguém mais atento conseguirá captar referências a vários clássicos do gênero. No elenco do filme estão veteranos como Richard Jenkins e Bradley Whitford, enquanto o time dos jovens isolados e lutando pela vida conta com o "Thor" Chris Hemsworth e Kristen Connolly no papel da protagonista, claramente um arquétipo de todas as heroínas de terror dos anos 1980 que você lembrar.

O resultado final é um filme que poderia até se tornar esquizofrênico entre tantas referências e intenções, mas sai bastante leve e, em sua pretensiosa despretensão, consegue atingir sua meta de trazer algo novo para o gênero. Apesar disso, fica o aviso de que um certo gosto por terror e no mínimo uma tolerância a sangue nas grandes telas é necessária - certa sequência na parte final do filme é provavelmente umas das maias sangrentas já produzidas. Para os fãs, a dica é certa: é um dos melhores terrores do ano, e forte candidato ao topo desse posto. Todas as sessões do filme no Festival do Rio já foram exibidas, mas calma: nos próximos meses ele entrará em cartaz no grande circuito. Não pode deixar a oportunidade passar.

Nota: 4,5 de 5,0.

sábado, 6 de outubro de 2012

Análise: Great Expectations

Grandes Esperanças, o romance considerado a obra-prima de Charles Dickens, deve ser um dos livros mais adaptados da história do cinema (O Morro dos Ventos Uivantes não deve vir muito atrás). No Festival do Rio desse ano, o público carioca pode conferir em primeira mão a versão do famoso diretor inglês Mike Newell para a grande trama de Dickens, com produção da BBC. E Newell faz seu trabalho, embora sem lá muito brilho. Por ser uma história tão batida nas telas do cinema, ainda que o texto de Dickens seja algo genial, ficava a esperança que essa adaptação pudesse trazer algum elemento novo, que revivesse a obra no âmbito da sétima arte. Não é exatamente o que acontece.

É preciso deixar claro: tecnicamente, não há nada de errado com o filme. Newell é um diretor competente, embora nem sempre brilhante, e em seu Great Expectations o que se vê é uma direção segura, sem dúvida, com um trabalho de fotografia bastante interessante e atuações de peso. Mas talvez esse também seja o grande problema do filme: é tudo tão exato que fica quadrado, com ar de filme para televisão (em termos de linguagem - nenhum preconceito), de manual de cinema. O roteiro é razoavelmente fiel, redondinho, fechadinho. Todas as características técnicas estão em seu lugar, cumprindo seu papel. Ainda assim, fica a sensação de que o filme poderia ter arriscado mais, procurado uma abordagem diferente. Apesar de qualquer competência, dificilmente será uma versão lembrada com muito entusiasmo daqui a alguns anos.

No mais, o grande destaque fica por conta das atuações. Com um texto tão forte, a seleção de atores de ponta escalados não deixa por menos. O leque de personagens clássicos de Dickens é representado por Robbie Coltrane como o advogado Jaggers; Ralph Fiennes, fazendo um grande trabalho com Magwitch; e Helena Bonham Carter, mais uma vez roubando a cena, agora como a sinistra Miss Havisham. Aliás, dá até para pensar que Dickens escreveu sua história em 1860 pensando em Carter, já que o papel cai como uma luva para a atriz. Jeremy Irvine e Holliday Grainger, que interpretam os protagonistas Pip e Estella, estão bem, mas preferi levemente a atuações de Toby Irvine e Helena Barlow, que fazem os personagens enquanto crianças.

Quem quiser conferir, o filme ainda será exibido hoje, dia 6, às 14h e 19h no Fashion Mall, e terça, dia 9, às 14h50 e 21h30 no Shopping da Gávea.

Nota: 3,0 de 5,0.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Análise: Moonrise Kingdom


"I love you, but you have no idea what you’re talking about."

Não é preciso saber muito previamente sobre Moonrise Kingdom ou ser um grande fã de Wes Anderson para apreciar uma hora e meia de excelente cinema. Uma mistura equilibrada e bastante saborosa de comédia, romance, drama, aventura e umas pitadas de fantasia transforma-se no filme mais universal e bem-acabado do diretor. O conto de duas crianças de 12 anos - um órfão e uma menina problemática - que, apaixonadas, fogem para o interior de uma idílica ilha na década de 1960 não se limita em momento algum a ser uma "historinha para crianças", como uma olhada rápida na sinopse poderia enganar. O roteiro de Anderson e Roman Coppola, junto com a direção bem característica de Anderson, tornam o longa uma obra que sintetiza com magia as dificuldades de crescer - e ser adulto - em um mundo cheio de expectativas e requisitos a serem cumpridos.

Nada no filme é mais peculiar que a relação dos protagonistas, Sam e Suzy. Duas crianças problemas, mas que, quando juntas, precisam encontrar a conciliação entre os impulsos juvenis e as responsabilidades da vida adulta. Ao mesmo tempo em que põe em prática a ideia - que já cruzou pelo menos uma vez a cabeça de muitas crianças - de fugir de casa, precisam lidar com situações básicas de sobrevivência e entender os próprios sentimentos um com o outro - a vibração do primeiro amor, que traz muito mais confusão do que completude, a descoberta da própria sexualidade e as dores e delícias de conviver com outra pessoa. E se Suzy se esconde por trás de uma máscara de maquiagem, roupas adultas e tentativas de soar madura, sua própria dificuldade de entender o mundo dos pais - devolvida pela quase infantilidade deles na hora de lidar com os filhos - e seu ato de roubar livros da biblioteca para sentir algum arroubo juvenil entregam o turbilhão de conflitos que a menina carrega. E que criança de 12 anos não carrega?

E é em não exagerar nem deixar a desejar nas tintas de seus personagens infantis - ou pelo menos dentro do possível, considerando a tendência de Anderson de fazer de seus personagens sempre curiosas e divertidas caricaturas (mas nunca caricatos) - que reside um dos grandes méritos do filme. Aqui, entra o contraponto com os personagens adultos, sempre parecendo fugir de seus próprios conflitos e não sabendo lidar com os próprios problemas, em comparação com a franqueza e simplicidade das crianças. Nessa oposição adultos meio crianças e crianças meio adultas, feita com bastante leveza e originalidade, reside, talvez, a moral da história: há cada vez menos equilíbrio num mundo que pede que assim seja, mas dar um pouquinho de ouvido para a criança em nós e a sinceridade que ela grita não faz mal, de vez em quando.

O resto é um esplendor técnico notável. A direção de arte é caprichada, a fotografia de Robert Yeoman é um espetáculo que já vale o ingresso e as atuações são incríveis. Bruce Willis, Edward Norton, Frances McDormand, Bill Murray, Tilda Swinton e Harvey Keitel estão no tom certo no elenco adulto, mas o destaque vai, sem dúvida, para Jared Gilman e Kara Hayward, os protagonistas. O roteiro, abrindo mão muitas vezes da verossimilhança para acrescentar mais valor ao clima de fantasia do longa, brinca com diferentes linguagens e faz 94 minutos passarem voando. A última sessão do filme no Festival do Rio foi ontem, mas logo logo ele entrará em circuito para todo o Brasil. Apenas imperdível.

Nota: 5,0 de 5,0.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Emmy: O dia seguinte


Às vezes arrastado, muitas vezes divertido, com sua cota rotineira de premiações surpreendentes. O 64º Emmy, entregue ontem à noite, não foi nem de perto as três horas de televisão mais divertidas do ano. Precisando ser bastante burocrático para evitar alongar-se demais, o que é sempre um risco em potencial quando se tem tantas categorias, o Emmy fez sua parte de entregar prêmios bem, ainda que isso tenha sacrificado um pouco a diversão do processo. Não que o apresentador Jimmy Kimmel não tenha feito sua parte. Suas tiradas eram realmente divertidas, sua presença de palco é inegável e ele mostrou ser capaz de provocar os indicados com bastante classe.

Talvez o grande problema tenha sido a previsibilidade da cerimônia. Na primeira categoria da noite, já ficou claro que pela terceira vez seguida Modern Family seria o destaque em comédia. Quando Damian Lewis faturou o prêmio de melhor ator em drama, Homeland já tinha dado seu xeque-mate. E se Game Change já era favorita para ganhar como filme para televisão, cada evento da noite parecia um prelúdio para isso. Sim, toda premiação acaba caindo, tradicionalmente, na previsibilidade uma hora ou outra, mas se existe um ritmo interessante na cerimônia, isso fica em segundo plano.

Acho, porém, que no fim das contas nada disso faz diferença. Se muitos dizem que as séries americanas (em especial as dramáticas) estão vivendo sua era de ouro, eu sou obrigado a concordar. Qualquer série na categoria principal de drama faria um vencedor à altura. A qualidade desses produtos transbordava para fora da tela. É verdade, Mad Men e Game of Thrones saíram de mãos vazias, algo chocante em especial para a primeira. Sim, vá lá, dar um Emmy para Jon Cryer nesse momento, com atores como Jim Parsons e Louis C.K. como concorrentes em trabalhos mais atuais - em todos os sentidos -, pareceu bastante precipitado. Apesar de tudo isso, se a intenção era fazer uma grande festa para a arte na televisão, a festa foi feita. Com tantos trabalhos tão bons, não poderia ser diferente.

Ah, sim, quanto às minhas apostas: ainda bem que não me levei a sério. Não fosse pelas óbvias favoritas, como Claire Danes e Maggie Smith, meu resultado seria catastrófico. Por sorte, foi só ruim.

A lista completa de vencedores, você confere aqui:


Série Dramática
Homeland
Série Cômica
Modern Family
Minissérie ou Telefilme
Virando o Jogo/Game Change
Ator de Série Dramática
Damian Lewis, Homeland
Ator de Série Cômica
Jon Cryer, Two And A Half Men
Ator de Minissérie ou Telefilme
Kevin Costner, Hatfields & McCoys
Atriz de Série Dramática
Claire Danes, Homeland
Atriz de Série Cômica
Julia Louis-Dreyfus, Veep
Atriz em Minissérie ou Telefilme
Julianne Moore, Game Change
Ator Coadjuvante em Série Dramática
Aaron Paul, Breaking Bad
Ator Coadjuvante em Série Cômica
Eric Stonestreet, Modern Family
Ator Coadjuvante em Minissérie ou Telefilme
Tom Berenger, Hatfields & McCoys
Atriz Coadjuvante em Série Dramática
Maggie Smith, Downton Abbey
Atriz Coadjuvante em Série Cômica
Julie Bowen, Modern Family
Atriz Coadjuvante em Minissérie ou Telefilme
Jessica Lange, American Horror Story
Roteiro – Série Dramática
Alex Gansa, Gideon Raff e Howard Gordon, Homeland – Pilot
Roteiro – Série Cômica
Louis C.K., Louie – Pregnant
Roteiro – Minissérie, Telefilme ou Especial
Danny Strong, Game Change
Direção – Série Dramática
Tim Van Patten, Boardwalk Empire – To The Lost
Direção – Série Cômica
Steven Levitan, Modern Family – Baby On Board
Direção – Minissérie, Telefilme ou Especial
Jay Roach, Game Change

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A cerimônia do Emmy - Previsões


Domingo, dia 23 de setembro, será realizada a 64ª cerimônia do Primetime Emmy Awards, a mais prestigiada premiação da televisão americana. O Emmy é comumente comparado - no limite da exaustão - ao Oscar, já que sua importância para a televisão americana é proporcional ao peso do prêmio da Academia para o cinema. A relação é engraçada, pois se há quem reclame da quantidade de prêmios técnicos do Oscar, mais gente ainda se surpreende com a quantidade de categorias técnicas do Emmy. A diferença é que essas categorias mais específicas são entregues, no caso do Emmy, em uma outra cerimônia, o Creative Emmy Awards, deixando apenas as "grandes categorias" para a noite de gala. Também é curioso como o Emmy premia suas categorias com muita independência: se no Oscar se espera que o melhor filme da noite também leve estatuetas para diretor e roteiro, no mínimo, no Emmy as melhores séries de drama ou comédia podem terminar a noite sem prêmios nessas categorias - eu, particularmente, acho interessante esse pensamento fora da caixa.

O Creative Emmy Awards desse ano viu Game of Thrones fazer uma limpa e ganhar seis estatuetas em categorias como direção de arte, efeitos especiais e som, sendo o grande destaque da noite. Ao todo, as séries da HBO levaram 17 prêmios para casa. A lista completa você pode conferir aqui: http://www.spinoff.com.br/2012/09/16/lista-de-vencedores-creative-artys-emmys-2012/. (Aproveite para analisar a quantidade impressionante de prêmios técnicos).

A partir de agora, irei dar meus palpites sobre o que acredito que acontecerá domingo, nas categorias principais. Se esse tipo de previsão é sempre achismo, reforço que nada do que eu disser deve ser levado muito a sério. Mas ei, pelo menos vai ser divertido dar meus chutes.

Melhor série dramática


Boardwalk Empire
Breaking Bad
Downton Abbey
Mad Men
Homeland
Game of Thrones

Acredito, para começar, que Boardwalk Enpire esteja apenas fazendo número, por enquanto. Downtown Abbey é uma possibilidade, mas não vejo acontecendo. Game of Thrones arrasou ontem nos prêmios técnicos, mas não sei se os votantes já se sentem prontos para aclamá-la como melhor série de drama. Breaking Bad é um sucesso de crítica, em tal medida que me impressiona que a série ainda não tenha levado a estatueta na principal categoria. Pode ser que seja, enfim, o ano. Mas meu dinheiro vai ou para Mad Men, ou para Homeland. A primeira é aclamada há anos, a outra é uma estreante queridinha dos críticos. Minha aposta final vai ser a mais segura também, mas não me surpreenderei se Homeland terminar com o ouro.

Deve ganhar: Mad Men
Gostaria que ganhasse: Game of Thrones

Ator de série dramática


Steve Buscemi, Boardwalk Empire
Bryan Cranston, Breaking Bad
Michael C. Hall, Dexter
Hugh Bonneville, Downton Abbey
Damian Lewis, Homeland
Jon Hamm, Mad Men


Acredito que será um embate entre Jon Hamm, que já deveria ter ganhado um Emmy há temporadas, e Bryan Cranston, três vezes ganhador. A úncia potencial zebra é Damian Lewis. Os outros devem assistir uma divertida cerimônia. Mais uma vez, ponho meu dinheiro no favorito.

Deve ganhar: Bryan Cranston, Breaking Bad
Gostaria que ganhasse: Jon Hamm, Mad Men


Atriz de Série Dramática

Glenn Close, Damages
Michelle Dockery, Downton Abbey
Julianna Margulies, The Good Wife
Kathy Bates, Harry’s Law
Claire Danes, Homeland
Elisabeth Moss, Mad Men

A úncia coisa certa que você deve saber sobre esse domingo é: Claire Danes vai ganhar o Emmy. Próxima categoria.

Deve ganhar: Claire Danes, Homeland
Gostaria que ganhasse: Difícil resistir ao charme de Danes, mas uma parte de mim adoraria ver Elisabeth Moss ganhando.


Ator Coadjuvante em Série Dramática

Aaron Paul, Breaking Bad
Giancarlo Esposito, Breaking Bad
Brendan Coyle, Downton Abbey
Jim Carter, Downton Abbey
Peter Dinklage, Game Of Thrones
Jared Harris, Mad Men

Uma categoria difícil, Vejo qualquer um desses, com exceção dos homens de Downtown Abbey ganhando. Ainda assim, parece que o hype está com Giancarlo Esposito levando essa, embora não descartaria uma dobradinha de Peter Dinklage.

Deve ganhar: Giancarlo Esposito, Breaking Bad
Gostaria que ganhasse: Peter Dinklage, Game Of Thrones


Atriz Coadjuvante em Série Dramática

Anna Gunn, Breaking Bad
Maggie Smith, Downton Abbey
Joanne Froggatt, Downton Abbey
Archie Panjabi, The Good Wife
Christine Baranski, The Good Wife
Christina Hendricks, Mad Men

É difícil ter Maggie Smith em uma categoria e não votar nela. Acredito que ela vá ganhar sem muitos problemas, mas meu coração está com Christina Hendricks, e isso não está em discussão.

Deve ganhar: Maggie Smith, Downton Abbey
Gostaria que ganhasse: Christina Hendricks, Mad Men


Melhor Série Cômica

The Big Bang Theory
Curb Your Enthusiasm
Girls
Modern Family
30 Rock
Veep

Sendo bastante honesto, com exceção de The Big Bang Theory e Girls, não sou fã de nenhuma das outras séries dessa seleção. Acredito que 30 Rock já tenha cansado, acho Modern Family ligeiramente superestimada, embora divertida, e nunca assisti Veep ou Curb Your Enthsiasm. Adoraria ver Girls ganhando aqui, mas acho que Modern Family leva mais uma vez...

Deve ganhar: Modern Family
Gostaria que ganhasse: Girls

Ator de Série Cômica

Jim Parsons, The Big Bang Theory
Larry David, Curb Your Enthusiasm
Don Cheadle, House Of Lies
Louis C.K., Louie
Alec Baldwin, 30 Rock
Jon Cryer, Two And A Half Men

Parece que chegou a vez de Loius C.K., mas não me surpreenderia em ver Jim Parsons ganhar pelo terceiro ano seguido (nem acharia ruim, honestamente). Acho que é basicamente isso nessa categoria.

Deve ganhar: Louis C.K., Louie
Gostaria que ganhasse: Jim Parsons, The Big Bang Theory

Atriz de Série Cômica

Lena Dunham, Girls
Melissa McCarthy, Mike & Molly
Zooey Deschanel, New Girl
Edie Falco, Nurse Jackie
Amy Poehler, Parks And Recreation
Tina Fey, 30 Rock
Julia Louis-Dreyfus, Veep

Uma categoria inchada e particularmente difícil para mim, já que não assisto quase nenhuma das séries. Sei que Julia Louis-Dreyfus é favorita, mas considerando a situação, vou me arriscar a um palpite ousado (ou nem tanto).

Deve ganhar: Zooey Deschanel, New Girl
Gostaria que ganhasse: Lena Dunham, Girls

Ator Coadjuvante em Série Cômica

Ed O’Neill, Modern Family
Jesse Tyler Ferguson, Modern Family
Ty Burrell, Modern Family
Eric Stonestreet, Modern Family
Max Greenfield, New Girl
Bill Hader, Saturday Night Live

Eles poderiam simplesmente renomear para "Melhor ator de Modern Family". Enfim, Ed O'Neill é o nome de maior peso e tem um histórico em comédia. Ponham suas fichas nele.

Deve ganhar: Ed O'Neill, Modern Family
Gostaria que ganhasse: Ed O'Neill, Modern Family

Atriz Coadjuvante em Série Cômica

Mayim Bialik, The Big Bang Theory
Kathryn Joosten, Desperate Housewives
Julie Bowen, Modern Family
Sofia Vergara, Modern Family
Merritt Wever, Nurse Jackie
Kristen Wiig, Saturday Night Live

Uma categoria um pouco complicada, mas acredito que mais uma vez Modern Family vai prevalecer. Julie Bowen me parece em melhor posição para levar o Emmy.

Deve ganhar: Julie Bowen, Modern Family
Gostaria que ganhasse: Julie Bowen, Modern Family, provavelmente a única vitória da série que realmente seria ok pra mim.

Para quem quiser assistir o Emmy domingo, a Warner começa a transmissão a partir de 21 horas. Na segunda deverei comentar os resultados - e meu desempenho como guru, claro.



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Vox Populi ou Quando Jodie Foster e eu defendemos Kristen Stewart

Eu estou plenamente consciente de que esse meu esporádico e reticente blog é pra falar de qualquer coisa sobre cinema e televisão, exceto minhas opiniões pessoais a respeito das fofocas de Hollywood. Essa nunca foi a proposta e nunca será. Entretanto, às vezes precisamos rever algumas opiniões diante de casos especiais, principalmente se o caso específico se revela tão digno de nota.

Daí que o casal favorito do público teen e um dos mais famosos de Hollywood se separou. A essa altura, todo mundo sabe dos detalhes. Kristen Stewart traiu Robert Pattinson com o diretor de seu último filme, Branca de Neve e o Caçador, Rupert Sanders, um homem casado e pai de dois filhos. O caso é fato consumado, os paparazzi caíram em cima e Stewart pediu desculpas publicamente ao namorado. A invasão na vida do casal já estava feita, mas é rotina da indústria, então não chocou ninguém. Poderia ter parado aí, mas não. Semanas se passaram e cada capítulo da separação é coberto com riqueza de detalhes. Os tabloides, alimentados enfim de sua sede por sexo (quando na ausência da violência para explorar), estampam a atriz em suas capas, as revistas falam, o público consome. E nós demonizamos ela. Segregamos ela. Julgamos ela.

Claro, traição é algo ruim. Claro, Pattinson deve estar passando por um dos piores momentos de sua vida. Mas o que disso tudo é da nossa conta? Nada, é claro. Que a imprensa se aproveite do momento não é algo que surpreenda. Estamos acostumados e essa é uma discussão na qual não quero entrar. O que é extremamente irritante é a posição popular de repúdio a Kristen Stewart assumida nos últimos dias. O que era uma questão entre dois casais tornou-se uma caça às bruxas pública, e toda culpa/vergonha/escândalo caiu sobre os ombros de Stewart. Ninguém apareceu para oferecer qualquer palavra de conforto.

Então eu me deparo com esse artigo - http://www.thedailybeast.com/articles/2012/08/15/jodie-foster-blasts-kristen-stewart-robert-pattinson-break-up-spectacle.html - assinado pela talentosíssima Jodie Foster e me recordo porque ela é uma de minhas atrizes - e pessoas - favoritas e que ainda existe esperança na humanidade. Foster faz uma reflexão de sua própria trajetória ao pensar no "escândalo Stewart" e conclui que esse é um mundo cruel para atores, que são as Marias Madalenas favoritas da sociedade. E como somos cruéis em apedrejar! Lançamos nossas pedras com vontade, mão cheia e determinação nos olhos, lançamos nossas expectativas irracionais, nossas hipocrisias e nossas vaidades. Ninguém sabe o que se passa na vida de Stewart e Pattinson, ninguém sabe o que eles pensam e desejam e ninguém, portanto, possui o direito de julgar nada. Mas julgamos, ah, como julgamos. É para isso que as celebridades existem, afinal.

E o mundo pode ser bem cruel com Kristen Stewart. Ela é uma mulher jovem e bonita. Ela, como mulher, ainda paga o preço de ter mordido a maçã. Não vejo muita atenção das revistas de fofoca em Rupert Sanders, e não, isso não acontece por ele ser menos famoso. Fosse o contrário e Pattinson tivesse traído, você saberia tudo a este ponto a respeito da "outra". Mas você sabe apenas o essencial sobre Sanders, e sabe também que ele é um marido levado à traição muito arrependido, e queira Deus que tudo termine bem para ele e a esposa. Seguimos disfarçando o machismo desses pensamentos com outros que fazem nos sentirmos melhor com nós mesmos: que Stewart deveria ser um exemplo, apesar de seus 22 anos, que ela se colocou em uma posição inadmissível e que deveria se envergonhar - apesar de seus 22 anos. O povo, afinal, também têm suas sedes a satisfazer.

Não quero dizer que Sanders deveria estar sendo massacrado também, ou que a dor de Pattinson não seja importante, mas simplesmente que vale a pena se perguntar se Stewart já não atingiu sua cota de chicotadas e se ela sequer deveria ter ganhado a primeira. Os erros e acertos de uma pessoa não são, afinal, algo que diz respeito a ela apenas e a quem ela se importar em dividi-los? Todas essas pessoas já não tiveram o bastante? Parece que se o mundo é cruel para os atores, é mais cruel ainda para uma atriz jovem e bonita. E a voz do povo nem sempre é a voz de Deus.

sábado, 14 de julho de 2012

Análise: Na Estrada

Existem diretores que acabam se especializando em determinados tipos de filme. No caso de Walter Salles, suas experiências anteriores com Central do Brasil e Diários de Motocicleta o qualificam para reclamar o posto de melhor diretor de road movies de nosso tempo. Sua terceira investida no gênero é Na Estrada, adaptação do romance semi-biográfico de Jack Kerouac, considerado um dos maiores clássicos contemporâneos da língua inglesa. Não tendo lido o livro, algo que aliás gostaria de já ter feito há muito, fui às cegas ao cinema sem qualquer expectativa a respeito do conteúdo, mas com muitas em relação ao prestígio de Salles. Saí sem ter a sensação de que o filme se equiparava aos dois filmes de estrada já mencionados do diretor, mais redondinhos em sua finalização, mas ainda assim com a de que vi uma obra de notável qualidade, com problemas estruturais, é verdade, mas com características bastante redentoras que falam mais alto.

O filme narra a história de Sal Paradise (Sam Riley), pseudônimo para o próprio Kerouac, um escritor com sérios problemas de bloqueio criativo que leva uma vida intensa e boêmia com outros jovens intelectuais que formam as origens da Geração Beat, que conquistaria o panorama literário americano nos anos seguintes. Por meio de seu amigo Carlo Max (Tom Sturridge), pseudônimo de Allen Ginsberg, Sal conhece Dean Moriarty (Garrett Hedlund), inspirado no grande amigo de Kerouac, Neal Cassady. Tanto Sal quanto Carlo fascinam-se pela figura de Dean, um nômade de paixões intensas que gosta de viajar pelo país, aberto a experimentações e sem criar raízes. Dean personifica a Geração Beat, e pelos olhos de Sal somos arrastados com o grupo em suas viagens pelos Estados Unidos, marcadas por drogas, situações inusitadas e autodescobrimento. Conhecemos mais sobre Dean na figura das mulheres que conquista, em especial Marylou (Kristen Stewart), sua paixão de anos da qual ele se recusa a abrir mão, e Camille (Kirtsen Dunst), aquela que o convence a tentar uma vida "normal". Mas é nas ações de Dean que realmente conseguimos entender o que ao mesmo tempo fascina e confunde Sal, levando tudo a um dos desfechos mais melancólicos dos últimos tempos.

A direção de Salles é competente, como sempre. Ele consegue extrair o melhor de vários pontos do roteiro que em outras mãos passariam batidos. Salles não tem medo de explorar abertamente o uso de drogas e a retratar de maneira crua a sexualidade de seus personagens, que constitui parte fundamental da obra. A fotografia de Éric Gautier é instrumento fundamental para criar o clima, e, juntos, Salles e Gautier conseguem fazer algo do outro mundo em cenas como as experiências com drogas dos personagens, deixando seu telespectador um pouco entorpecido também. O roteiro de Jose Rivera é bom, embora bastante longo. Talvez a sensação seja diferente para quem leu o material original, mas às vezes o excesso de fidelidade com o livro cria situações que acrescentam pouco ao desenvolvimento dos personagens, como o relacionamento de Sal com Terry (Alice Braga). Afinal, Dean é o grande foco do filme e da vida do próprio Sal, como ele mesmo admite, sempre se posicionando à sombra e tendo uma inegável sensação de vazio quando está longe do amigo. Porém, os momentos de destaque do texto e a direção segura de Salles vem em resgate e, embora não poupem o longa de parecer estar se estendendo um pouco além da conta, nunca o deixam ficar pesado em excesso.

O grande destaque nas atuações é Hedlund, que consegue passar a intensidade desmedida de seu Dean e construir um personagem quase trágico e apaixonante, apesar de todas as suas falhas evidentes. Para quem temeu uma atuação irregular de Kristen Stewart, atriz que sempre divide opiniões, ela segura as pontas da personagem, ainda que passe longe de se destacar. Porém, há algo em sua Marylou que soa bastante natural e faz Stewart parecer a escolha certa para o papel, apesar de tudo. Há excelentes participações especiais de Viggo Mortensen, Amy Adams, Steve Buscemi, Terrence Howard e Elisabeth Moss ao longo do filme, que enriquecem o filme e aliviam a tensão sempre focada em Sal e Dean.

Talvez Na Estrada não seja exatamente um filme fácil para todos, devido ao conteúdo extremamente polêmico para sua época do livro inspirador e que ainda hoje soa muito forte para alguns públicos, o que, somado a estrutura e duração do longa o torne repelente para certas pessoas. Ainda assim, vale a pena pegar mais essa estrada que Salles no convida. Não é um filme tão fácil de gostar quanto Central do Brasil ou Diários de Motocicleta - a comparação é um tanto inevitável no caso -, e talvez não esteja mesmo no mesmo patamar, mas ainda vale o ingresso de quem gosta de cinema bem-feito e de mente aberta, de quem se interessa na Geração Beat, ainda que não seja nem de perto a análise detalhada do movimento que alguns gostariam, ou de quem simplesmente gosta de botar o pé na estrada de vez em quando e tem que, vez por outra, superar seus próprios bloqueios criativos.

Nota: 4,0 de 5,0.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

De cinema, televisão e Hollywood



Em algum ponto em abril, enquanto fazia uma de minhas já tradicionais visitas aos meus costumeiros sites sobre cinema, me deparei com esse artigo de James Wolcott para a revista Vanity Fair, datado de antes do Oscar deste ano: http://www.vanityfair.com/hollywood/2012/05/wolcott-television-better-than-movies (em inglês, mas para quem puder, vale a pena ler). Em resumo, Wolcott proclama a morte do cinema tradicional americano, em comparação, pelo menos, com a televisão americana e seus produtos. Uma posição extrema, sem dúvidas. Mas será que válida? O cinema estaria mesmo enfrentando uma crise de proporções tão grandes que seus fãs deveriam simplesmente fazer uma migração para a televisão - e "migrar para a televisão" são palavras bastante estranhas para 2012, se você pensar bem. Wolcott exagera um pouco no tom quase apocalíptico, é preciso reconhecer, mas, de maneira geral, ele está certo em todo o resto. Sim, o cinema é imortal e pessoas de visão e talento existem em todos os lugares do mundo, contudo está cada vez mais claro que o cinema vem perdendo e muito em qualidade em função do esvaziamento de ideias ou mesmo de conteúdo para bons roteiros e uma perda quase generalizada de coragem.

Vamos pelo começo. Quando alguém passa a se dedicar a falar de cinema moderno, é basicamente impossível não tocar no assunto Hollywood. Ainda que a pessoa em questão queira negar todos os valores do cinema tradicional hollywoodiano, ela precisa primeiro expor sua posição e seus fundamentos. O cinema americano lançou várias bases e tendências ao longo do século XX que viriam a se tornar padrões para a sétima arte, de forma que é impossível não prestar honras ao cinema clássico americano e reconhecer a importância e impacto de seu conglomerado empresarial, Hollywood. Desse modo, é igualmente impossível não admitir que qualquer mudança nos padrões de Hollywood afetam, sim, o cenário do cinema mundial. Negar isso é presunção e não querer ver o óbvio. O que torna o artigo de Wolcott mais interessante ainda, porém, é sua comparação do cinema com as séries americanas, o inegável segundo produto cultural mais tradicional dos Estados Unidos. E é aqui que a coisa pega.

Assim como o cinema americano influencia pessoas por todo o continente e além-mar, sua televisão também. Com a explosão da TV à cabo, as séries se tornaram muito populares e invadiram lares de todo o mundo - sem mencionar o apoio mais recente da internet, que atua como faca de dois gumes, tanto difundindo quanto facilitando a distribuição de downloads não autorizados. Em termos de Brasil, seu acesso e apreciação ainda é limitado a uma classe média, enquanto o cinema segue sendo mais universal, mas os efeitos da invasão das séries se fez presente até na TV brasileira, que na última década investiu mais tempo de sua programação em suas próprias aventuras no gênero, ainda que de forma particular. Tudo isso torna mais fácil para que os privilegiados com acesso daqui possam reconhecer que o padrão da televisão americana está mais alto do que nunca, algo que eles próprios já perceberam há muito tempo.

Séries como Mad Men, Game of Thrones e Boardwalk Empire se destacam como superproduções do presente, com roteiros primorosos e valentes. Sem mencionar séries já encerradas, como Lost (ainda hoje, minha série favorita e inabalável em seu primeiro lugar) e The Sopranos. Na medida oposta, o cinema fica cada vez mais careta e conservador. Isso falando apenas de drama, pois na comédia a TV já superou o cinema há muito, desde que Friends e Seinfield ganharam corações ao redor do mundo. A tradição se mantém viva hoje, com sucessos de público e de crítica como The Big Bang Theory, How I Met Your Mother, Community e Parks and Recreation. Todas essas séries têm mostrado iniciativas mais inovadoras e propostas mais promissoras do que a maior parte do que é feito no cinema atual. Por uma série de razões, produtores, diretores e roteiristas constantemente investem em fórmulas mais tradicionais, deixando os riscos de lado para atrair audiências cada vez mais amplas, o que não deixa de ser um reflexo de como as cifras cada vez mais altas vêm interferindo e pedindo resultados mais práticos.

Sem dúvida existe uma grande leva de diretores talentosos fugindo dos padrões com frequência e entregando trabalhos constantemente originais: Martin Scorsese, Woody Allen, Terrence Malick, Steven Spielberg, David Fincher, Darren Aronofsky, Christopher Nolan, só para nomear alguns. É certo também que existe vida fora de Hollywood e vida em abundância, não só nos cinemas de outros países, mas igualmente no cenário independente americano, que a cada ano vem emplacando filmes de sucesso. Contudo, é uma pena ver o potencial de uma grande máquina de cinema ser desperdiçado visando escolhas que têm muito pouco a ver com arte. Enquanto a televisão vêm preencher esse vazio, fica a esperança de que a sétima arte americana possa atravessar essa crise generalizada de criatividade e possamos dispor de variadas formas de entretenimento de qualidade.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Análise: Sombras da Noite

O modo mais justo de começar essa resenha de Sombras da Noite é confessar que acho Tim Burton um diretor superestimado. Certo, ele fez alguns longas realmente interessantes na década de 1990 e Peixe Grande é inegavelmente um filme bonito e simpático, mas o status privilegiado de Burton junto ao universo do cinema como um todo sempre me pareceu fora de proporção. Apesar disso, sempre insisti em acompanhar seus filmes, pois sempre percebi algumas qualidades que não deveriam ser menosprezadas, como seu cuidado visual impecável e o clima que suas obras invariavelmente apresentam, com sua inclinação ao surreal e ao burlesco. Porém isso nem sempre é o bastante para salvar uma produção, o que é o caso evidente de Sombras da Noite, filme baseado em uma famosa soap opera americana da década de 1960 criada por Dan Curtis, mas que parece ter sido destinada a Burton. A afinidade do diretor com a estética da história poderia ter rendido um resultado memorável, mas, infelizmente, isso não chega nem perto de acontecer, por uma série de erros que acabam ficando escancarados.

A história começa no final do século XVIII, quando a família inglesa Collins se muda para o Maine e funda a cidade de Collinsport, fazendo uma fortuna com a pesca. Porém, o filho dos Collins, Barnabas (Johnny Depp), um tipo conquistador, seduz Angelique Buchard (Eva Green) embora não esteja apaixonado por ela e desconhecendo o fato de que ela é uma feiticeira. Quando Barnabas se apaixona por Josette Du Pres (Bella Heathcote), Angelique se vinga conduzindo a moça ao suicídio. Desesperado, Barnabas tenta se matar também, mas a feiticeira faz com que ele se transforme em um vampiro antes de ter sucesso, condenando-o a passar uma vida eterna amaldiçoada. Incitando a população de Collinsport contra Barnabas, Angelique se torna a nova governante do lugar, enquanto o vampiro é enterrado em um local remoto.

Duzentos anos se passam, até que Barnabas é libertado acidentalmente de sua sepultura em 1972. Entrando em choque com o novo mundo, ele retorna até a casa de sua família e se reúne com seus últimos descendentes: Elizabeth (Michelle Pfeiffer), a matriarca da família; sua filha rebelde de 15 anos, Carolyn (Chlöe Grace Moretz); o irmão de Elizabeth, o boa-vida Roger (Jonny Lee Miller); e seu filho, atormentado pela morte da mãe, David (Gulliver McGrath). Lá também moram os funcionários da casa: a psiquiatra de David, Dra. Hoffman (Helena Bonham Carter), o zelador, Willie (Jackie Earle Haley), e a nova governanta, Victoria, que Barnabas percebe ser a reencarnação de Josette. Após alguns conflitos iniciais entre a família e Barnabas, o vampiro decide ajudar seu clã a recuperar a glória de outros tempos, em especial após descobrir que Angelique ainda vive, disfarçada como uma descendente de si mesma, e foi determinante para a ruína de seus descendentes.

As características que tornaram Burton famoso estão todas presentes no filme. Estética sombria, altas doses de humor negro e um preciosismo notável com a direção de arte, que aliás deve ser a melhor entre todos os filmes do diretor. Isso, contudo, não é suficiente para segurar a fragilidade do roteiro, que contém alguns erros que atrapalham muito. Para começar, tudo é muito apressado. É natural que, pela natureza da adaptação, muita coisa presente na soap opera acabasse ficando de fora, mas a tendência do roteiro de querer abraçar o mundo sem conseguir explorar nenhum assunto realmente bem deixa o filme vago. Os fatos mais absurdos são aceitos com muita naturalidade (ainda que se considere toda a estética surrealista da obra), talvez simplesmente porque não há tempo para mais do que isso. O roteiro sufocado também faz com que basicamente nenhum personagem seja bem desenvolvido, o que contribui para um subaproveitamento de ótimos atores - Michelle Pfeiffer passa o filme inteiro sem dizer a que veio e a cada vez mais promissora Chlöe Grace Moretz fica sem ter muita coisa pra fazer -, além de criar um grande desinteresse com relação aos personagens. Afinal, fora os arcos dramáticos de Barnabas e Angelique, tramas com potencial como as de David, Victoria ou da Dra. Hoffman ficam no ar, subaproveitadas.

Perdido em sua própria trama que não se decide nunca entre o terror, o drama ou a comédia (esta última opção é a que rende as melhores tiradas do filme), Sombras da Noite fica dependente de seus ocasionais bons momentos - a piada com o McDonalds's me divertiu de verdade e é facilmente a melhor cena do filme. Esses bons momentos, entretanto, são esporádicos demais para impressionar. O filme pode até entreter um espectador ocasional, mas dificilmente sobrevive na cabeça muito tempo depois da saída do cinema. Um claro sinal de que Burton está precisando se reinventar e, sim, que sua parceria com Depp está precisando urgentemente de renovação e um pouco de ar fresco, para o bem dos dois.

Nota: 2,5 de 5,0.

domingo, 1 de julho de 2012

Flashback: Blade Runner

Esta semana, o clássico da ficção Blade Runner: O Caçador de Androides completou trinta anos. Enquanto o filme passou longe de ser um sucesso na ocasião de lançamento, tornando-se algo próximo de um fracasso de bilheteria, foi justamente o tempo quem fez justiça ao filme de Ridley Scott, que voltava a visitar o gênero após Alien: O Oitavo Passageiro. Enquanto Alien brincava com metáforas para sexualidade ocultas sob a atmosfera do terror, Scott e os roteiristas Hampton Fancher e David Peoples trabalharam com uma gama imensa de referências pop em Blade Runner, mergulhando-as no molho do noir para utilizar os androides da trama como reflexões sobre a condição humana. Tantas influências poderiam ter gerado um resultado esquizofrênico, mas o talento de Scott impediu isso. O que se seguiu, na verdade, foi um filme que não pode ficar de fora de qualquer lista de melhores do cinema.

A trama, ambientada numa Los Angeles decadente de 2019 (o que era um futuro bem longe em 1982), gira em torno de Rick Deckard (Harrison Ford), um caçador de replicantes (androides criados para serem mais perfeitos que os próprios humanos e trabalharem no espaço, mas que foram proibidos de visitar a Terra) aposentado, que é levado de volta à ativa quando um grupo de replicantes se rebela e desembarca no planeta. Liderados por Roy Batty (Rutger Hauer), eles querem encontrar seu criador para questionar as motivações por trás da própria existência e pedir mais tempo de vida (já que os replicantes são programados para morrer após certo tempo). Em sua caçada, Deckard encontra Rachael (Sean Young), assistente do tal criador que não desconfia que é, ela mesma, uma replicante. Quando a verdade a encontra com um choque e é confirmada por Deckard, os dois começam um relacionamento intenso, mas fadado a um fim abrupto. Enquanto isso, as ruas de uma sombria Los Angeles viram cenário para uma caçada sangrenta, cujo desfecho é ao mesmo tempo belo, trágico e inesperado.

O filme ganhou uma variedade de versões ao longo dos anos, em grande parte pela insatisfação de Scott com o final "feliz" veiculado nos cinemas em 1982, que suavizava as insinuações de que o próprio Deckard era um replicante e garantia um futuro para ele e Rachael. Na versão do diretor, lançada anos depois, o desfecho é mais sombrio e incerto. Qualquer que seja o caso, a questão toca no tema central de Blade Runner: a humanidade. Os replicantes, embora "vilões", parecem possuir sentimentos mais identificáveis do que os humanos, que por sua vez são frios e práticos. É só lembrar da cena próxima ao final onde Gaff (Edward James Olmos), referindo-se a Rachael, diz: "It's too bad she won't live! But then again, who does?" (É uma pena que ela não vá viver! Mas afinal, quem vive?). É impossível deixar de notar a metáfora religiosa: os androides estão atrás de seu Criador para tentar compreender suas próprias existência e mortalidade. Os replicantes são nada mais que um simbolismo para nós mesmos, sempre em busca de respostas e tentando reverter a brevidade da vida, mas terminando com mais dúvidas do que antes na cabeça. Invertendo as concepções de humano e androide, Blade Runner traz o questionamento dos limites da humanidade e, por fim, o que podemos entender desse conceito e qual é, afinal, sua importância numa sociedade cada vez mais tecnológica e robótica.

Em linguagem de cinema, o filme é um espetáculo para os olhos. Uma ficção noir contando com direção de arte e fotografia supremas e a maravilhosa e icônica trilha sonora de Vangelis ao fundo. O longa talvez seja a atuação mais firme de Harrison Ford, um lenda do cinema de ação, que dá vida e depressão ao amargurado Deckard. Há também a presença de uma jovem Daryl Hannah como a sensual replicante Pris, mas é sem dúvidas Rutger Hauer quem rouba a cena. Seu solilóquio final, que foi uma mistura de improvisação de Hauer com elementos do roteiro, tornou-se extremamente famoso e atiçou a imaginação dos fãs de sci-fi ao redor do mundo. Para mim, além de tudo isso, as linhas finais do personagem Batty formam um dos momentos mais bonitos da história do cinema, resumindo toda a moral do filme e arrepiando pela grandeza e simplicidade. É justamente o vídeo dessa cena que escolho para encerrar essa análise. Só resta afirmar que são filmes como Blade Runner que renovam a cada dia meu amor pelo cinema.

Nota: 5,0 de 5,0.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Análise: Prometheus

Há praticamente dez anos atrás, multiplicavam-se comentários em sites especializados de que um quinto filme na série Alien estava em produção. Boatos de uma colaboração entre Ridley Scott e James Cameron, diretores dos dois primeiros e melhores filmes da franquia, surgiam com força, o que animou os fãs de ficção científica. O tempo passou, notícias surgiram, outros assuntos desapareceram, Cameron abandonou o navio (o trocadilho é intencional) e, enfim, dois anos atrás Scott anunciou que assumiria a direção de uma prequel para a série, estabelecendo as origens para a mitologia do universo Alien e revelando a cadeia de acontecimentos que culminaram em Alien: O Oitavo Passageiro. O resultado é Prometheus, que marca o retorno de Scott ao sci-fi trinta anos depois. O filme de fato tenta se posicionar como ponto de partida e funcionar como obra independente e, embora escorregue notavelmente em vários momentos no roteiro, apresenta-se de maneira honrosa para a reputação de Scott junto ao gênero.

Situado em 2093 (29 anos antes de O Oitavo Passageiro, para os mais freaks), o filme segue uma expedição a bordo da nave Prometheus com destino a lua LV-223, integrante de uma galáxia distante, mas similar à Via Láctea. O grupo é liderado pelo casal de arqueologistas Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green), que logo entra em atrito com Vickers (Charlize Theron), funcionária da Weyland Corporation - uma velha conhecida dos fãs de Alien -, que está financiando a viagem e enviou-a para monitorá-la. Na tripulação também está David (Michael Fassbender), um androide de inteligência e habilidades espantosas. Assim que a expedição pousa em seu destino, eles se depararam com uma estrutura que não parece ter sido construída pela natureza e que abriga os corpos de vários alienígenas humanoides que Shaw e Holloway acreditam serem nossos "construtores", razão pela qual os apelidam de Engenheiros. Porém, a medida que o grupo adentra o local, ele começa a se deparar com um horror enterrado naquelas câmaras, que gradualmente começa a matar ou enlouquecer os membros da tripulação. Quando a volta para casa fica comprometida, eles percebem tarde demais que podem ter liberado uma ameaça letal.

Vou começar minha análise de modo inverso ao que costumo fazer, destacando os pontos negativos primeiro. Na verdade, o grande problema nesse sentido, para mim, é o roteiro. Não que ele seja ruim ou peque em ritmo, mas inegavelmente deixa muito a desejar em termos de finalização. Muita coisa é simplesmente deixada no ar e fica a sensação de que todo o tempo estava se pensando em deixar material sobrando para uma continuação. Não que eu ache que absolutamente tudo precise de respostas, mas há um mínimo de perguntas que precisam ser satisfeitas e com o qual Prometheus parece não se importar. Outro ponto que acabou ficando a dever no roteiro - que tem como um dos autores Damon Lindelof, roteirista da série Lost - foi o desenvolvimento de alguns personagens. Enquanto David, o androide, e em certa medida Shaw são construídos razoavelmente, muitos outros personagens importantes acabam se mostrando pouco. É o caso, por exemplo, de Vickers, que faz a ótima Charlize Theron se tornar quase uma participação especial.

De resto, não há dúvidas: Prometheus é uma ficção científica de primeira linha. A homenagem que presta a Alien, quase emulando sua estrutura e sugando seus elementos de cinema de terror, é nítida e bem-vinda. Scott mostra que não enferrujou com o tempo longe do gênero e entrega um trabalho belíssimo. A cena inicial é espetacularmente bonita e a sequência do parto, sem dizer mais para não estragar qualquer coisa, é sem dúvidas a melhor do filme, levando os níveis de tensão a um nível inacreditável. Assim como Alien, a moral final é um alerta para o deslumbramento humano diante do desconhecido e de suas forças que podem sair de nosso controle, mas Prometheus, mais épico e com mais poesia, usa uma salada cultural de mitos gregos, lendas de povos da Antiguidade e referências a Lovecraft para passar sua mensagem. Não é melhor que seu homenageado e sucessor cronológico, que ganha com toda sua simplicidade e crueza, mas é uma adição indolor ao cânone. O elenco funciona, com destaque para Fassbender, mais uma vez roubando a cena em um filme e nos brindando com o melhor androide da série, sempre frio mas começando a desenvolver emoções como inveja e maravilhamento. Uma prequel digna, no momento em que Hollywood parece estar banalizando essa tendência.

Nota: 4,0 de 5,0.

Mas não acabou aqui!
Primeiro, um aviso. Hoje, justamente, 25 de junho de 2012, Blade Runner, de Scott, está completando 30 anos. Fica aqui meu parabéns e a promessa de uma resenha desse clássico dos clássicos para essa semana.
Agora, fugindo um pouco à minha determinação de não soltar spoilers de filmes que ainda estão no cinema ou são muito recentes, um último parágrafo de divagações com revelações do enredo. Daqui pra frente, só leia se já viu o filme. Ou simplesmente se não é do tipo que se incomoda com ter as surpresas estragadas, rs.

Muita gente ficou confusa com o final do filme - e a aparição do Alien - não se conectarem muito bem com o começo de O Oitavo Passageiro. Existe uma razão simples. As duas coisas realmente não se conectam. Aquela não é a lua em que a Nostromo pousa 29 anos depois. Poderia parecer, à primeira vista, que o fim de um levaria diretamente para o começo de outro, mas não. Algo que só reforça a chance de uma continuação, essa sim (talvez) fazendo a conexão final. O gancho já foi estabelecido, com Shaw partindo para encontrar os Engenheiros. De resto, fica a dúvida: o Alien que aparece no final é o primeiro Alien de todos, o elo perdido criado quase que experimentalmente por David quando ele infectou Holloway, e este por sua vez Shaw? Se sim, como os Aliens se multiplicaram por aí e chegaram em outra lua? Pontas soltas que, olha lá, quase obrigam uma continuação para remendar a história. Quando algumas perguntas são respondidas, outras surgem... é a maravilha do cinema.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Pixar: quando filmes para crianças são mais que isso

Colocar sonhos nas telas do cinema. Pode-se dizer que esse sempre foi o lema não-oficial da Pixar e de suas animações. Com uma história de décadas, a trajetória do estúdio cruza com nomes como a Lucasarts, no seio de quem nasceu e cresceu; Steve Jobs, que comprou o grupo na década de 1990; até chegar na Disney, que se tornou a principal parceira do estúdio e a atual detentora de suas ações. Com seu estilo baseado em animação gerada por computadores, a Pixar se tornou uma das pioneiras do ramo - Toy Story é o primeiro longa totalmente no estilo, embora haja quem afirme que o brasileiro Cassiopéia foi o primeiro 100% computadorizado de fato. Discussões acaloradas à parte, a Pixar veio a se tornar o maior estúdio de animação digital do mundo, talvez superando a própria Disney em popularidade na última década. A pergunta que fica é: por quê? Como um estúdio que começou a produzir longas há 17 anos pode ter se tornado um fenômeno cultural tão grande?

Na época de seu lançamento, Toy Story era algo inacreditável, uma verdadeira sensação para a maior parte do público. Sim, a animação, produzida em parceira e distribuída pela Disney, era realmente de uma qualidade espantosa, com uma riqueza de detalhes que ainda hoje é capaz de fazer o crítico mais exigente sorrir. Sua continuação, Toy Story 2, que a Disney chegou a planejar fazer diretamente em vídeo, e Vida de Inseto, os dois projetos seguintes da Pixar, não deixaram por menos, exibindo uma produção cada vez mais apurada e bem executada. Mas outra coisa se destacava fortemente, algo que ia além do assombro visual: os roteiros. Os desenhos do grupo tinham roteiros muito bons, fugindo do esquema tradicional da princesa encantada em perigo e do tirano usurpador (que produziu grandes clássicos, claro, mas que pede por uma pausa e uma reinvenção).

A grande sacada da Pixar foi produzir longas que, de certa forma, eram atemporais. Vamos analisar um grande clássico da Disney em comparação, O Rei Leão, por exemplo (aliás, minha animação favorita - achei que vocês deveriam saber). Seu tema, argumento e desenvolvimento permitem que o longa seja apreciado por pessoas de todas as idades, sempre, mas ele deixa uma marca especial exclusivamente nas crianças. Ele é pensado para ser assim, esse é seu apelo. Agora, consideremos um filme como Up. Seu apelo inicial é o público infantil, é óbvio, mas ele tem um ponto de virada. Sua história consegue falar alto com pessoas de qualquer idade, talvez dialogando melhor até mesmo com uma plateia mais madura. Até mesmo um filme que parece ser moldado exclusivamente para crianças, como Procurando Nemo, encontra esse eco necessário em outras idades que faz com que ele seja, de fato, uma experiência que não vê barreiras etárias.

E são em filmes mais "experimentais", como WALL-E, uma das animações de estrutura mais inusitada dos últimos tempos, que a genialidade da equipe de Pixar em conduzir suas histórias fica escancarada. Uma trama de amor em essência, mas que abraça uma série de temas periféricos, como solidão e inadequação, que não são tão facilmente absorvidos por um público mais jovem, mas rapidamente assimilados com o passar do tempo. Talvez seja esse o ponto que separa de maneira direta a Pixar da Disney. Ambos apreciáveis em qualquer idade, ambos produzindo obras eternas, ambos errando às vezes, mas sempre se mantendo no topo do que fazem. Porém, talvez quando ficamos velhos nos tornamos mais Pixar do que Disney, o último tendo mais aquele gosto quase agridoce de recordações de infância. E, enquanto a Pixar se prepara para levar mais multidões ao cinema com Valente no meio desse ano, nos preparamos nós para dar voz aquela criança que temos e que gosta (melhor seria: precisa) de se expressar de vez em quando. Ela pode agradecer e muito à Pixar pela chance dada todo ano, e que sempre se renova, melhor e melhor.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Análise: Espelho, Espelho Meu

Nem mesmo o grande esforço que é feito para criar uma ambientação visual impressionante em Espelho, Espelho Meu salva o filme de ser mais uma maçã envenenada do que algo tão gracioso quanto a Branca de Neve de Lily Collins. Dirigida por Tarsem Singh, essa adaptação tenta criar uma versão do clássico conto de fadas dos Irmãos Grimm engraçada, com toques generosos de fantasia e voltada para um público mais infantil - quase o oposto da versão que estreará mais à frente estrelada por Charlize Theron e Kristen Stewart, que vende-se como dark e teen. Por mais que eu tenha tentado olhar o filme de Singh com simpatia desde as primeiras notícias a seu respeito, a verdade é que a experiência de assisti-lo passou longe de ser agradável. Não porque eu já não esteja na faixa de idade do público-alvo - isso nunca foi empecilho-, mas pelo simples fato de que o filme tem tantos problemas que chega a ser extremamente entediante.

A história apresenta pequenas variações em relação ao conto: um rei viúvo se casa com uma bela e vaidosa mulher (Julia Roberts). O soberano um dia desparece na floresta, deixando a Rainha para cuidar do reino e de sua filha do primeiro casamento, Branca de Neve (Lily Collins), dita ser a mais bela mulher do mundo. Com inveja da enteada, a Rainha a mantém trancada no castelo, até que a princesa um dia consegue fugir e conhece a pobreza que a nova governante fez cair sobre seu reino. Nessa saída ela também conhece o príncipe Alcott (Armie Hammer), um nobre em busca de aventuras. Desnecessário dizer como eles se apaixonam à primeira vista. O príncipe acaba no castelo da Rainha, que, em meio a uma crise financeira, arma um plano para se casar com ele. Para isso, ela decide dar um fim em Branca de Neve, que conquistou o coração do príncipe e começou a confrontá-la a respeito de sua administração. Ela manda seu servo Brighton (Nathan Lane), que assume o posto do caçador da história tradicional, matá-la na floresta, mas o homem se compadece e deixa a menina escapar. Branca de Neve acaba se refugiando no esconderijo dos Sete Anões, um grupo de ladrões que foram expulsos das cidades por serem "indesejáveis". Juntos, eles vão lutar para que Branca de Neve recupere tudo que perdeu e depor sua madrasta tirana.

Os aspectos visuais do filme são de fato deslumbrantes: a direção de arte e o figurino estão bastante competentes. Os efeitos especiais, se não impressionam, não deixam nada a dever, também. Lily Collins está bem como a Branca de Neve, em uma caracterização bem próxima da qual eu imagino para a personagem original. Apesar disso, torna-se quase forçado pensar nela como a mulher mais bonita do mundo quando ela contracena ao lado de Julia Roberts, que, embora não esteja em seu melhor momento, é a maior graça do filme e possui as melhores cenas.

Porém, a maior parte dos defeitos se concentra em dois pontos: a direção enrolada de Singh, que não explora bem as melhores oportunidades da trama nem tentar extrair mais de seus atores, e o roteiro capenga. Em nenhum momento a história apresenta originalidade o bastante para afastá-la do posto de mais uma adaptação genérica. As piadas soam quase forçadas na maior parte das situações e alguns personagens, como o do príncipe, são incrivelmente mal-desenvolvidos, aparecendo rasos e sem carisma. Até gostei da forma como os anões foram explorados nessa versão, mas com um roteiro tão fraco, todo o potencial deles é desperdiçado em mais piadinhas que não fazem ninguém de fato rir. Junte a isso uma fotografia que mistura momentos razoáveis com outros inusitados e uma montagem que às vezes soa alucinada demais para o estilo da obra e chegamos ao resultado final: um filme com boas intenções, mas que escorrega demais em um número muito grande de falhas, soando perdido e pouco inspirado. Não sei o que será da segunda adaptação da história, mas talvez ainda haja tempo de buscar inspiração sobre o que não fazer.

Nota: 2,0 de 5,0.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Flashback: Titanic

Depois de quase duas semanas "fora", estou de volta. A razão pela ausência de post nesse intervalo é pura e simplesmente minha completa falta de tempo. Mas uma coisa eu posso garantir: não deixei de pensar no blog em nenhum minuto, e, na verdade, estou planejando algumas mudanças na casa para breve. Falarei mais sobre isso nos próximos posts, mas prometo que não vou deixar tanto tempo se passar sem atualizações por aqui.

Para voltar com todo o gás, e atendendo a alguns pedidos, resolvi aproveitar essa onda de ressuscitar filmes em versão 3D para falar daquele que talvez é o maior clássico do cinema dos últimos 20 anos, o que sem dúvidas justifica sua resenha neste blog: Titanic, de James Cameron. Seu legado é conhecido: foi o filme mais caro a ser produzido até então, a maior bilheteria de todos os tempos (foi superado depois por Avatar, também de Cameron), o filme com mais indicações ao Oscar, 14, empatado com A Malvada, e o filme que ganhou mais Oscars, 11, empatado com Ben Hur e O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei. Em uma nota mais pessoal, foi o primeiro filme não-animação que vi no cinema, o que de várias formas é algo bem marcante. Dito tudo isso, eu preciso deixar bem claro que não, não acho que Titanic seja o melhor filme da história e o maior feito cultural já realizado pela mão humana - mas também acho que seus detratores exageram e muito em sua fúria. É sem dúvidas um filme emocionante, extremamente bem-filmado e dirigido e definitivamente marcante, embora com o tempo eu tenha observado melhor uma ou outra falha que me impedem de falar em "perfeição".

Todo ser humano que não viveu na Terra Média ou em Nárnia nos últimos quinze anos conhece a história do filme, então apenas darei as pinceladas básicas. O Titanic foi o maior e mais luxuoso navio de seu tempo e era considerado insubmergível. A trama do filme começa na atualidade, com uma expedição do caçador de tesouros Brock Lovett (Bill Paxton) explorando os destroços do navio atrás do colar de diamantes conhecido como Coração do Oceano, que afundou com a embarcação. Ao encontrar uma pintura de uma bela mulher nua, Lovett é contatado por uma centenária Rose Dawson (Gloria Stuart), que conta a equipe sua saga como sobrevivente do naufrágio do Titanic. Uma adolescente Rose (Kate Winslet) embarcou no navio com a mãe (Frances Fisher) e o noivo, o mau-caráter Cal (Billy Zane). A bordo, Rose conheceu Jack Dawson (Leonardo DiCaprio), um pobretão com um talento notável para desenho. Os dois se apaixonam, para desgosto da mãe de Rose e ira de Cal, mas o maior dos problemas deles surge quando o navio se choca contra um iceberg - e o resto, literalmente, é história.

Titanic é provavelmente o melhor exemplo do talento de James Cameron para filmes de ação e efeitos. Sua reconstituição é magistral e as cenas do naufrágio do navio são verdadeiramente épicas. Em todos os aspectos técnicos, Titanic é de fato lendário. Não há um elemento sequer destoando, e é possível ver a mão de Cameron interagindo em cada cena e cada detalhe. O diretor, de fato, sempre foi famoso por seu preciosismo e presença constante (o que lhe rendeu a fama de ditador por alguns). Outra marca registrada de Cameron que o longa representa é sua preferência por filmes grandes e que não poupam despesas. Titanic é gigantesco em todos os aspectos. Pode não ser o meu preferido de sua filmografia, mas é um dos mais lindamente finalizados, sem dúvida. O elenco é bastante competente, com o destaque ficando para Stuart. Tanto DiCaprio quanto Winslet teriam atuações mais impactantes no futuro, mas foi aqui que suas carreiras realmente decolaram.

O meu grande porém com Titanic, contudo, uma questão que conforme os anos passam só se intensifica, é justamente seu roteiro. Sendo bastante direto: ele é fraco. É quase fraco demais para toda a produção que se construiu sobre ele. James Cameron nunca foi um grande roteirista - ele é mais um homem de imagens do que de palavras - e Titanic deixa isso claro. A banalidade de seu roteiro, quase clichê, incomoda bastante. É uma grande pena, pois uma história mais afiada poderia ter verdadeiramente colocando o filme em um outro patamar. Mas, de maneira geral, isso não teve qualquer influência no resultado final. O filme ainda é um sucesso, ainda existem jogadas de marketing sobre ele e referências culturais a seu respeito estão em qualquer lugar na internet. Em seus méritos, que são muitos, é um filme arrasador, e que ainda será lembrado por um longo, longo tempo.

Nota: 4,5 de 5,0.