segunda-feira, 5 de março de 2012

Análise: Drive

Um dos piores erros que alguém poderia cometer ao se preparar para assistir Drive é julgar que irá ver mais um filme de ação padrão de Hollywood. Se tem algo que Drive não é, é padrão. O filme que rendeu a Nicolas Winding Refn, um virtual desconhecido até então, o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes do ano passado subverte todos os esquemas do gênero e parece se divertir brincando com estilos. Tendo conquistado um bom número de fãs entre críticos e público do festival para cá, o filme enfim chegou em terras brasileiras de maneira quase tímida, talvez justamente pela dificuldade em ser categorizado e, portanto, "vendido". Contudo, superando-se essa barreira, Drive se revela um dos filmes mais interessantes e bem dirigidos dos últimos tempos.

Ryan Gosling interpreta o protagonista da história, um homem cujo nome nunca é revelado, mas que se divide entre várias ocupações para ganhar a vida. Oficialmente, ele é um mecânico na oficina de Shannon (Bryan Cranston), um sujeito que age como uma espécie de figura paterna para ele. Nas horas vagas, o motorista sem nome trabalha como dublê em filmes de ação em sequências que envolvem carros. Mas seu trabalho principal é como piloto de fuga para criminosos que contratam seus serviços em estilo freelance. Shannon, que auxilia o amigo nessa tarefa, o coloca em contato com a dupla de gângsters, Bernie Rose (Albert Brooks) e Nino (Ron Perlman), que passam a reservar seus próprios planos para o motorista.

Apesar de ser um homem de poucas palavras e solitário, o motorista sem nome se sente rapidamente atraído por uma nova vizinha, Irene (Carey Mulligan), uma mulher cujo marido está cumprindo pena em uma prisão e cria o filho, ainda uma criança, sozinha. A aproximação dos dois vai ficando cada vez mais intensa, até que o marido de Irene, Standard (Oscar Isaac), é solto, embora continue sendo perseguido por antigos credores, que passam a ameaçar a vida de sua família. Apaixonado por Irene, o motorista resolve fazer algo impensável: ajudar seu marido a cometer um roubo que pagará suas dívidas. Os desdobramentos desse assalto, porém, obrigarão o motorista a tomar decisões drásticas e a lutar para sobreviver.

O grande trunfo de Drive é ter Refn na direção. O diretor transforma uma história apoiada em um roteiro simples, quase banal, em algo visualmente surpreendente e inovador. Apesar de um filme de ação em essência, Drive em nenhum momento é filmado segundo os padrões do gênero. A câmera muitas vezes se arrisca a ficar parada por um longo tempo, os diálogos não predominam e a trilha sonora é completamente experimental e inusitada. O longa parece se apoiar na frase do célebre diretor John Ford, "um bom filme é aquele em que a ação é longa e os diálogos, curtos". Extremamente imagético, com uma grande ajuda da fotografia de Newton Thomas Sigel, Drive parece homenagear vários ícones do cinema. Impossível não associar seu protagonista ao Pistoleiro Sem Nome da Trilogia dos Dólares de Sergio Leone. Toda sua estética parece ecoar o Scorsese da década de 1970 ou mesmo o Tarantino de Cães de Aluguel e Pulp Fiction. É preciso, porém, fazer uma advertência: como as referências a esses diretores já deve indicar, o filme tem momentos de extrema violência. Nada chocante para os acostumados, mas que deve ser avisado desde antes, de qualquer forma.

Meio retrô, meio noir, mas sempre com uma direção firme e de aspectos técnicos impecáveis que superam qualquer problema estrutural de sua história, Drive se estabelece como um dos longas mais impactantes de sua safra. Uma boa recomendação para quem sente um pouco de falta de uma pegada mais artística nos filmes de ação modernos. Talvez por isso não encontre um público tão amplo quanto outros filmes do gênero, mas vale a pena conferir suas experimentações.

Nota: 5,0 de 5,0.

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