sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Análise: Moonrise Kingdom


"I love you, but you have no idea what you’re talking about."

Não é preciso saber muito previamente sobre Moonrise Kingdom ou ser um grande fã de Wes Anderson para apreciar uma hora e meia de excelente cinema. Uma mistura equilibrada e bastante saborosa de comédia, romance, drama, aventura e umas pitadas de fantasia transforma-se no filme mais universal e bem-acabado do diretor. O conto de duas crianças de 12 anos - um órfão e uma menina problemática - que, apaixonadas, fogem para o interior de uma idílica ilha na década de 1960 não se limita em momento algum a ser uma "historinha para crianças", como uma olhada rápida na sinopse poderia enganar. O roteiro de Anderson e Roman Coppola, junto com a direção bem característica de Anderson, tornam o longa uma obra que sintetiza com magia as dificuldades de crescer - e ser adulto - em um mundo cheio de expectativas e requisitos a serem cumpridos.

Nada no filme é mais peculiar que a relação dos protagonistas, Sam e Suzy. Duas crianças problemas, mas que, quando juntas, precisam encontrar a conciliação entre os impulsos juvenis e as responsabilidades da vida adulta. Ao mesmo tempo em que põe em prática a ideia - que já cruzou pelo menos uma vez a cabeça de muitas crianças - de fugir de casa, precisam lidar com situações básicas de sobrevivência e entender os próprios sentimentos um com o outro - a vibração do primeiro amor, que traz muito mais confusão do que completude, a descoberta da própria sexualidade e as dores e delícias de conviver com outra pessoa. E se Suzy se esconde por trás de uma máscara de maquiagem, roupas adultas e tentativas de soar madura, sua própria dificuldade de entender o mundo dos pais - devolvida pela quase infantilidade deles na hora de lidar com os filhos - e seu ato de roubar livros da biblioteca para sentir algum arroubo juvenil entregam o turbilhão de conflitos que a menina carrega. E que criança de 12 anos não carrega?

E é em não exagerar nem deixar a desejar nas tintas de seus personagens infantis - ou pelo menos dentro do possível, considerando a tendência de Anderson de fazer de seus personagens sempre curiosas e divertidas caricaturas (mas nunca caricatos) - que reside um dos grandes méritos do filme. Aqui, entra o contraponto com os personagens adultos, sempre parecendo fugir de seus próprios conflitos e não sabendo lidar com os próprios problemas, em comparação com a franqueza e simplicidade das crianças. Nessa oposição adultos meio crianças e crianças meio adultas, feita com bastante leveza e originalidade, reside, talvez, a moral da história: há cada vez menos equilíbrio num mundo que pede que assim seja, mas dar um pouquinho de ouvido para a criança em nós e a sinceridade que ela grita não faz mal, de vez em quando.

O resto é um esplendor técnico notável. A direção de arte é caprichada, a fotografia de Robert Yeoman é um espetáculo que já vale o ingresso e as atuações são incríveis. Bruce Willis, Edward Norton, Frances McDormand, Bill Murray, Tilda Swinton e Harvey Keitel estão no tom certo no elenco adulto, mas o destaque vai, sem dúvida, para Jared Gilman e Kara Hayward, os protagonistas. O roteiro, abrindo mão muitas vezes da verossimilhança para acrescentar mais valor ao clima de fantasia do longa, brinca com diferentes linguagens e faz 94 minutos passarem voando. A última sessão do filme no Festival do Rio foi ontem, mas logo logo ele entrará em circuito para todo o Brasil. Apenas imperdível.

Nota: 5,0 de 5,0.

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