terça-feira, 9 de outubro de 2012

Análise: O Segredo da Cabana

Cinco jovens americanos decidem se afastar do mundo e passar um fim de semana em um lugar isolado para dedicar-se a experiências que envolvem muito sexo e drogas. No caminho, encontram um homem muito estranho, que os adverte dos perigos da região. Eles vão em frente mesmo assim, sem saber que estão libertando um mal antigo e poderoso. Um a um, eles são mortos das maneiras mais sanguinolentas possíveis. No final, a última sobrevivente, uma garota completamente comum e que escapou dos últimos assassinatos correndo e gritando, consegue, de maneira inacreditável, conter a ameaça e voltar à sua vida normal. Resumido assim, temos um modelo quase universal do "terror universitário americano", consagrado na década de 1980 e que ainda dá frutos. Um olhar desatento poderia colocar O Segredo da Cabana nesse esquema. Ledo engano. Um dos filmes mais criativos dos últimos tempos, ele consegue ao mesmo satirizar esse estilo e ser um excelente trabalho de cinema de terror - um feito duplo notável.

Colaboração do diretor e roteirista Drew Goddard e do também roteirista Joss Whedon (que dirigiu, esse ano, Os Vingadores), o filme é ao mesmo tempo homenagem e crítica aos slasher movies, aquele estilo de terror com muitas mutilações, cabeças decepadas e sangue espirrando na tela - homenagem ao gênero em si e sua história, mas crítica ao que ele se tornou nos últimos anos, com roteiros genéricos e um advento do que muitos chamam de torture porn, onde os personagens são torturados para deleite do público. A distinção pode ser tênue, mas é muito clara para Goddard e Whedon, que buscam resgatar conceitos com uma atmosfera real de medo e um roteiro inteligente, que faça o espectador realmente torcer pelos personagens, e não por seu fim sangrento (ainda que eles tenham que acontecer, de qualquer forma).

No balanço de amor e ódio, O segredo da cabana é um filmaço de terror, do tipo que é melhor não adiantar qualquer coisa da história e deixar o espectador juntar as peças conforme assiste. Basta dizer que está perfeita a combinação entre terror, suspense e comédia (não se pode nem dizer alívio cômico - apesar de ter uma trama "séria", o longa usa a comédia quase como um elemento de ligação do roteiro, um humor negro muito satírico e com uma mensagem bastante interessante por trás). Fica claro que, no fundo, por trás do filme existem dois apaixonados pelo terror, e alguém mais atento conseguirá captar referências a vários clássicos do gênero. No elenco do filme estão veteranos como Richard Jenkins e Bradley Whitford, enquanto o time dos jovens isolados e lutando pela vida conta com o "Thor" Chris Hemsworth e Kristen Connolly no papel da protagonista, claramente um arquétipo de todas as heroínas de terror dos anos 1980 que você lembrar.

O resultado final é um filme que poderia até se tornar esquizofrênico entre tantas referências e intenções, mas sai bastante leve e, em sua pretensiosa despretensão, consegue atingir sua meta de trazer algo novo para o gênero. Apesar disso, fica o aviso de que um certo gosto por terror e no mínimo uma tolerância a sangue nas grandes telas é necessária - certa sequência na parte final do filme é provavelmente umas das maias sangrentas já produzidas. Para os fãs, a dica é certa: é um dos melhores terrores do ano, e forte candidato ao topo desse posto. Todas as sessões do filme no Festival do Rio já foram exibidas, mas calma: nos próximos meses ele entrará em cartaz no grande circuito. Não pode deixar a oportunidade passar.

Nota: 4,5 de 5,0.

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