segunda-feira, 25 de junho de 2012

Análise: Prometheus

Há praticamente dez anos atrás, multiplicavam-se comentários em sites especializados de que um quinto filme na série Alien estava em produção. Boatos de uma colaboração entre Ridley Scott e James Cameron, diretores dos dois primeiros e melhores filmes da franquia, surgiam com força, o que animou os fãs de ficção científica. O tempo passou, notícias surgiram, outros assuntos desapareceram, Cameron abandonou o navio (o trocadilho é intencional) e, enfim, dois anos atrás Scott anunciou que assumiria a direção de uma prequel para a série, estabelecendo as origens para a mitologia do universo Alien e revelando a cadeia de acontecimentos que culminaram em Alien: O Oitavo Passageiro. O resultado é Prometheus, que marca o retorno de Scott ao sci-fi trinta anos depois. O filme de fato tenta se posicionar como ponto de partida e funcionar como obra independente e, embora escorregue notavelmente em vários momentos no roteiro, apresenta-se de maneira honrosa para a reputação de Scott junto ao gênero.

Situado em 2093 (29 anos antes de O Oitavo Passageiro, para os mais freaks), o filme segue uma expedição a bordo da nave Prometheus com destino a lua LV-223, integrante de uma galáxia distante, mas similar à Via Láctea. O grupo é liderado pelo casal de arqueologistas Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green), que logo entra em atrito com Vickers (Charlize Theron), funcionária da Weyland Corporation - uma velha conhecida dos fãs de Alien -, que está financiando a viagem e enviou-a para monitorá-la. Na tripulação também está David (Michael Fassbender), um androide de inteligência e habilidades espantosas. Assim que a expedição pousa em seu destino, eles se depararam com uma estrutura que não parece ter sido construída pela natureza e que abriga os corpos de vários alienígenas humanoides que Shaw e Holloway acreditam serem nossos "construtores", razão pela qual os apelidam de Engenheiros. Porém, a medida que o grupo adentra o local, ele começa a se deparar com um horror enterrado naquelas câmaras, que gradualmente começa a matar ou enlouquecer os membros da tripulação. Quando a volta para casa fica comprometida, eles percebem tarde demais que podem ter liberado uma ameaça letal.

Vou começar minha análise de modo inverso ao que costumo fazer, destacando os pontos negativos primeiro. Na verdade, o grande problema nesse sentido, para mim, é o roteiro. Não que ele seja ruim ou peque em ritmo, mas inegavelmente deixa muito a desejar em termos de finalização. Muita coisa é simplesmente deixada no ar e fica a sensação de que todo o tempo estava se pensando em deixar material sobrando para uma continuação. Não que eu ache que absolutamente tudo precise de respostas, mas há um mínimo de perguntas que precisam ser satisfeitas e com o qual Prometheus parece não se importar. Outro ponto que acabou ficando a dever no roteiro - que tem como um dos autores Damon Lindelof, roteirista da série Lost - foi o desenvolvimento de alguns personagens. Enquanto David, o androide, e em certa medida Shaw são construídos razoavelmente, muitos outros personagens importantes acabam se mostrando pouco. É o caso, por exemplo, de Vickers, que faz a ótima Charlize Theron se tornar quase uma participação especial.

De resto, não há dúvidas: Prometheus é uma ficção científica de primeira linha. A homenagem que presta a Alien, quase emulando sua estrutura e sugando seus elementos de cinema de terror, é nítida e bem-vinda. Scott mostra que não enferrujou com o tempo longe do gênero e entrega um trabalho belíssimo. A cena inicial é espetacularmente bonita e a sequência do parto, sem dizer mais para não estragar qualquer coisa, é sem dúvidas a melhor do filme, levando os níveis de tensão a um nível inacreditável. Assim como Alien, a moral final é um alerta para o deslumbramento humano diante do desconhecido e de suas forças que podem sair de nosso controle, mas Prometheus, mais épico e com mais poesia, usa uma salada cultural de mitos gregos, lendas de povos da Antiguidade e referências a Lovecraft para passar sua mensagem. Não é melhor que seu homenageado e sucessor cronológico, que ganha com toda sua simplicidade e crueza, mas é uma adição indolor ao cânone. O elenco funciona, com destaque para Fassbender, mais uma vez roubando a cena em um filme e nos brindando com o melhor androide da série, sempre frio mas começando a desenvolver emoções como inveja e maravilhamento. Uma prequel digna, no momento em que Hollywood parece estar banalizando essa tendência.

Nota: 4,0 de 5,0.

Mas não acabou aqui!
Primeiro, um aviso. Hoje, justamente, 25 de junho de 2012, Blade Runner, de Scott, está completando 30 anos. Fica aqui meu parabéns e a promessa de uma resenha desse clássico dos clássicos para essa semana.
Agora, fugindo um pouco à minha determinação de não soltar spoilers de filmes que ainda estão no cinema ou são muito recentes, um último parágrafo de divagações com revelações do enredo. Daqui pra frente, só leia se já viu o filme. Ou simplesmente se não é do tipo que se incomoda com ter as surpresas estragadas, rs.

Muita gente ficou confusa com o final do filme - e a aparição do Alien - não se conectarem muito bem com o começo de O Oitavo Passageiro. Existe uma razão simples. As duas coisas realmente não se conectam. Aquela não é a lua em que a Nostromo pousa 29 anos depois. Poderia parecer, à primeira vista, que o fim de um levaria diretamente para o começo de outro, mas não. Algo que só reforça a chance de uma continuação, essa sim (talvez) fazendo a conexão final. O gancho já foi estabelecido, com Shaw partindo para encontrar os Engenheiros. De resto, fica a dúvida: o Alien que aparece no final é o primeiro Alien de todos, o elo perdido criado quase que experimentalmente por David quando ele infectou Holloway, e este por sua vez Shaw? Se sim, como os Aliens se multiplicaram por aí e chegaram em outra lua? Pontas soltas que, olha lá, quase obrigam uma continuação para remendar a história. Quando algumas perguntas são respondidas, outras surgem... é a maravilha do cinema.