quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Análise: As Vantagens de Ser Invisível

"We accept the love we think we deserve"

Eu me lembro claramente que quando estava no colégio (e lá se vão cinco anos desde que terminei o ensino médio), uma das coisas que eu evitava ao máximo fazer era demonstrar conhecimento a respeito de um determinado assunto. Eu sempre tive inclinação e habilidade para as áreas humanas, de forma que gostava de pesquisar e aprender sobre história, geografia, literatura e línguas. Apesar disso, o mundo de um adolescente é, a princípio, cruel, e dar sinais de qualquer interesse maior do que é "saudável" em assuntos curriculares nunca é visto com bons olhos. Então você segue a dança. Comecei essa resenha com esse pedaço de lembrança porque foi ele que me permitiu me conectar logo cedo com o protagonista de As Vantagens de Ser Invisível, filme do diretor de primeira viagem Stephen Chbosky, adaptado de seu próprio livro.

Pela lente e enredo de Chbosky seguimos Charlie (Logan Lerman), um garoto que, como meu eu adolescente e tantos outros no mundo, busca algumas coisas fundamentais: aceitação, pertencimento, a sensação de ser importante para algo ou alguém. Sugado de seu mundo infantil de fantasia para um mundo mais frio e incerto, após sofrer uma série de perdas e tropeções em pedras no caminho, seu único objetivo é sobreviver ao ensino médio. E ele está convencido de que terá que fazer isso sozinho, até conhecer Sam (Emma Watson) e seu irmão, Patrick (Ezra Miller). Sam e Patrick, acostumados a não pertencerem ao grupo dos populares e seguros de quem são, tornam-se a chance de redenção para o solitário Charlie, que se vê, pela primeira vez, parte de algo. Mas logo fica claro que os dois irmãos possuem demônios tão fortes quanto os de Charlie para destruir, e Charlie, que tanto precisa de ajuda, também pode ajudar.

Partindo de uma premissa simples - a adolescência pode ser um inferno para os que a cruzam sozinhos (e quase todos se sentem assim em algum momento) -, Chbosky consegue pôr vida e esperança em uma trama que ele conhece tão bem e que em momento algum perde seu ritmo ou deixa sua mensagem se perder. O cenário de "adolescente que precisa aprender a crescer" não é nem de perto algo novo - desde a década de 1980 o cinema americano já o explora, às vezes com ótimos resultados, às vezes terminando em verdadeiras tragédias -, porém o autor e diretor de As Vantagens de Ser Invisível sabe aonde quer ir e exatamente o que quer dizer, ainda que não faça nenhuma revolução cinematográfica ou precise disso. Assim como depois da tempestade vem a bonança, todo inferno há de acabar e o que vem depois é maravilhoso, mas para isso talvez seja necessário vencer os próprios medos primeiro.

É claro, é impossível deixar de elogiar o trio de protagonistas. Logan Lerman é conhecido como o personagem-título da série Percy Jackson, Ezra Miller ganhou os críticos como o também personagem-título de Precisamos Falar Sobre o Kevin e se você esteve em algum lugar do planeta Terra nos últimos doze anos, deve saber que Emma Watson interpretou Hermione Granger na série Harry Potter. Acredito que o filme seja o melhor momento até aqui de todos os três: Lerman segura bem o papel mais difícil do que parece, Miller mais uma vez rouba cenas e Watson teve uma evolução incrível como atriz na última década. E, para fechar, deixo meu último elogio para David Bowie e sua Heroes, que pode muito bem daqui para a frente ser conhecida apenas por "a música do túnel". Poucas vezes letra e melodia se casaram tão bem com o que aparece na tela e foram tão pertinentes. Graças a Bowie e As Vantagens de Ser Invisível, não resta dúvida: podemos ser heróis. Ainda que só por um dia.

Nota: 5,0 de 5,0.

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