Daí que o casal favorito do público teen e um dos mais famosos de Hollywood se separou. A essa altura, todo mundo sabe dos detalhes. Kristen Stewart traiu Robert Pattinson com o diretor de seu último filme, Branca de Neve e o Caçador, Rupert Sanders, um homem casado e pai de dois filhos. O caso é fato consumado, os paparazzi caíram em cima e Stewart pediu desculpas publicamente ao namorado. A invasão na vida do casal já estava feita, mas é rotina da indústria, então não chocou ninguém. Poderia ter parado aí, mas não. Semanas se passaram e cada capítulo da separação é coberto com riqueza de detalhes. Os tabloides, alimentados enfim de sua sede por sexo (quando na ausência da violência para explorar), estampam a atriz em suas capas, as revistas falam, o público consome. E nós demonizamos ela. Segregamos ela. Julgamos ela.
Claro, traição é algo ruim. Claro, Pattinson deve estar passando por um dos piores momentos de sua vida. Mas o que disso tudo é da nossa conta? Nada, é claro. Que a imprensa se aproveite do momento não é algo que surpreenda. Estamos acostumados e essa é uma discussão na qual não quero entrar. O que é extremamente irritante é a posição popular de repúdio a Kristen Stewart assumida nos últimos dias. O que era uma questão entre dois casais tornou-se uma caça às bruxas pública, e toda culpa/vergonha/escândalo caiu sobre os ombros de Stewart. Ninguém apareceu para oferecer qualquer palavra de conforto.
Então eu me deparo com esse artigo - http://www.thedailybeast.com/articles/2012/08/15/jodie-foster-blasts-kristen-stewart-robert-pattinson-break-up-spectacle.html - assinado pela talentosíssima Jodie Foster e me recordo porque ela é uma de minhas atrizes - e pessoas - favoritas e que ainda existe esperança na humanidade. Foster faz uma reflexão de sua própria trajetória ao pensar no "escândalo Stewart" e conclui que esse é um mundo cruel para atores, que são as Marias Madalenas favoritas da sociedade. E como somos cruéis em apedrejar! Lançamos nossas pedras com vontade, mão cheia e determinação nos olhos, lançamos nossas expectativas irracionais, nossas hipocrisias e nossas vaidades. Ninguém sabe o que se passa na vida de Stewart e Pattinson, ninguém sabe o que eles pensam e desejam e ninguém, portanto, possui o direito de julgar nada. Mas julgamos, ah, como julgamos. É para isso que as celebridades existem, afinal.
E o mundo pode ser bem cruel com Kristen Stewart. Ela é uma mulher jovem e bonita. Ela, como mulher, ainda paga o preço de ter mordido a maçã. Não vejo muita atenção das revistas de fofoca em Rupert Sanders, e não, isso não acontece por ele ser menos famoso. Fosse o contrário e Pattinson tivesse traído, você saberia tudo a este ponto a respeito da "outra". Mas você sabe apenas o essencial sobre Sanders, e sabe também que ele é um marido levado à traição muito arrependido, e queira Deus que tudo termine bem para ele e a esposa. Seguimos disfarçando o machismo desses pensamentos com outros que fazem nos sentirmos melhor com nós mesmos: que Stewart deveria ser um exemplo, apesar de seus 22 anos, que ela se colocou em uma posição inadmissível e que deveria se envergonhar - apesar de seus 22 anos. O povo, afinal, também têm suas sedes a satisfazer.
Não quero dizer que Sanders deveria estar sendo massacrado também, ou que a dor de Pattinson não seja importante, mas simplesmente que vale a pena se perguntar se Stewart já não atingiu sua cota de chicotadas e se ela sequer deveria ter ganhado a primeira. Os erros e acertos de uma pessoa não são, afinal, algo que diz respeito a ela apenas e a quem ela se importar em dividi-los? Todas essas pessoas já não tiveram o bastante? Parece que se o mundo é cruel para os atores, é mais cruel ainda para uma atriz jovem e bonita. E a voz do povo nem sempre é a voz de Deus.