

Essa é a premissa simples de Amor. A partir dela, somos convidados a assumir o mesmo papel de Georges: assistir a irreversível e lenta partida de Anne. Enquanto marido tenta tornar a vida da esposa o mais confortável possível, ainda que tenha que superar os próprios sentimentos primeiro, ela se recusa a aceitar seu estado. E quem poderia julgar? Haneke é impiedoso. Por meio de pequenas cenas, gestos e diálogos, eles nos aproxima de Georges e Anne e nos faz entender tudo que se passa pela cabeça dos dois diante da fatalidade. Sua câmera quase não se move, de modo que às vezes filma tudo sem pudor, enquanto outras vezes prefere mostrar o nada. A técnica é usada com sabedoria, e o efeito é sempre impactante. Riva tem o trabalho mais difícil, o de se mostrar frágil e gradativamente incapaz, mas Trintignant tem uma missão tão delicada quanto, a de ser a força onde a princípio não existe nenhuma. Ambos estão impecáveis. Há também a participação de Isabelle Huppert como a filha do casal. Sua personagem funciona como elemento externo, uma ruptura ao casal e sua casa, e é uma adição interessante, embora esporádica.
Amor é um filme extremamente difícil. Seu tema é denso, pesado e toca em uma parte da vida que, embora certa e inevitável, preferimos varrer para debaixo do tapete. Ele nos faz confrontar a perspectiva da morte, de maneira direta, sem rodeios ou floreios. Com exceção das tomadas iniciais, toda a ação se passa dentro do mesmo apartamento, o que aumenta a sensação de aprisionamento pelo destino. Apesar disso, é um filme com uma beleza que nasce da simplicidade de sua proposta. O "amor" do título não é decorativo nem está ali para enganar alguém. Mas a vida não só termina como pode ser árdua e cruel antes disso. É a maneira como enfrentamos o que está por vir - e virá, não há jeito - que faz a diferença. Tenho a sensação de que é isso que Haneke quer dizer, no fim das contas.
Nota: 5,0 de 5,0.