Quem me conhece, sabe que eu gosto bastante de video games. Tendo sido criado com um Super Nintendo e, posteriormente, com um Nintendo 64 em casa, não poderia ser de outra maneira. O fato de eu ter três consoles em casa talvez fale por si só, embora eu tenha que fazer meu melhor para dividir a atenção entre eles com tempo limitado. Esse amor é em parte responsável por eu ter gostado tanto de Detona Ralph, a mais recente animação 3D da Disney. Outro responsável é muito mais simples: o filme é realmente bom. Apesar de sua aura atrativa para gamers, ele pode ser muito bem apreciado, em função de seus temas universais, por quem não tem muito contato com o universo dos video games, e esse é um ponto forte a seu favor. Em especial, ele é uma lufada de ar fresco depois de dois anos com poucas animações que realmente conseguiram trazer algo novo ou simplesmente empolgar fãs pelo mundo.
Explorando um universo vastíssimo, o roteiro decidiu focar seus protagonistas no mundo dos arcades, ou fliperamas, como ficaram conhecidos no Brasil, os tradicionais video games operados a base de moedas. Detona Ralph é o vilão do game Conserta Felix Jr., onde antagoniza o personagem título promovendo uma onda de destruição, até ser fatalmente vencido ao fim de cada partida. O problema é que fazendo a mesma coisa diariamente por trinta anos, Ralph está em uma crise de identidade. Cansado de viver no ostracismo, ser repudiado pelos outros personagens de seu jogo por suas vilanias e incapaz de encontrar ajuda com os outros colegas vilões - no mundo de Detona Ralph os personagens podem viajar pelo sistema de cabos da loja onde moram e entrar em outros jogos -, Ralph decide que está na hora de uma mudança de ares. Em seu caminho atrás de reconhecimento e uma medalha de herói, ele conhece outros games e, em um deles, uma simpática garotinha corredora, Vanellope, com quem forma um laço. Mas, como não poderia deixar de ser, a tentativa de Ralph de mudar a ordem pré-estabelecida coloca o mundo dos video games em súbito perigo - e é aí que as coisas começam a ficar intensas.
O filme dirigido por Rich Moore é uma proposta leve e divertida. Ele puxa temas bastante consagrados - isolamento, a busca de um lugar no mundo e a revolta com a ordem existente - e os trabalha sob uma roupagem diferente e uma abordagem inovadora e sem peso. O roteiro te leva pelos lugares onde você espera que ele irá passar, sem que você se importe, e conduz para um desfecho que, embora esperado, é completamente satisfatório e realizado com emoção. O visual também é exuberante, e se beneficia do universo gamer para criar cenários diversificados e ricos, ora sombrios, ora imensamente coloridos, de acordo com as necessidades. Os personagens principais são bem construídos: Vanellope é uma das melhores personagens femininas de animação dos últimos tempos, fofa quase sempre e irritante quando necessário, Ralph é o perfeito vilão em busca de redenção e o par de coadjuvantes, Conserta Felix Jr. (não é preciso pensar muito para ver em quem esse carpinteiro foi inspirado) e a Sargento Calhoun (que é mais ou menos como seria Samus Aran, da série Metroid, em um jogo que seguisse a linha de Call of Duty) são adições bastante interessantes.
Satisfatório para o público em geral, mas com apelo particular para os fãs de video game, Detona Ralph pode não ser uma sequência desenfreada de referências a jogos e personagens na tela. Verdade, muitos personagens foram licenciados para fazer aparições, e temos Bowser, Sonic, Zangief, Chun Li (numa cena piscou-perdeu), entre outros fazendo pontas. Mas a intenção do filme nunca foi fazer uma homenagem - acaba sendo, mas de maneira indireta. Explorando um universo rico e cheio de possibilidades, Detona Ralph quer apenas contar sua história, e esse é o foco que quem vai assistir deve ter em mente. Assim, vai curtir sempre que reconhecer algo na tela e aproveitar uma grande animação, indicada com justiça ao Oscar de melhor animação.
Ps.: Antes do filme está sendo exibido o curta O Avião de Papel, também indicado ao Oscar ontem, na categoria curta de animação. Outro que vale muito a pena, história simples e bonita.
Nota: 5,0 de 5,0.
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