sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Análise: As Aventuras de Tintim

Depois de ver As Aventuras de Tintim, fiquei com a sensação de que havia descoberto porque Cavalo de Guerra foi um filme tão medíocre. Todos os esforços de Steven Spielberg estavam claramente direcionados na animação, a primeira de sua carreira. 2011 foi um ano extremamente fraco para animações, o mais fraco em muito tempo - e não se engane, apesar de Tintim ter chegado às telas no Brasil em 2012, ele é um filme da leva ainda do ano passado. Pois bem, as aventuras cinematográficas do jovem repórter são um verdadeiro alívio para o gênero no ano, além de servir como uma grande renovação para os desenhos de captura de movimentos. A técnica escolhida por Spielberg para levar o personagem dos quadrinhos do belga Hergé ao cinema, aliás, foi alvo de uma polêmica recente, já que muita gente estava levantando a discussão a respeito do filme ser ou não uma animação. Não se deixe enganar: o filme é claramente um desenho animado, como felizmente parece ser o consenso dos críticos e fãs, mas com a maior riqueza de detalhes já vista em uma obra do gênero.

Para ir direto ao ponto do enredo, a história conta como o repórter conheceu seu melhor amigo, o capitão Haddock, que é figura central na trama. Tintim está em uma feira de uma cidade não especificada na Europa quando tem sua atenção despertada para a miniatura de um navio, o Unicorn. Tintim a compra, sendo logo em seguida interpelado insistentemente pois dois homens que gostariam de adquirir a peça. Tintim recusa as propostas, mas logo percebe que a miniatura parece esconder um importante segredo, que se relaciona diretamente com o passado do Unicorn, um grande navio do século XVII comandado pelo lendário Francis Haddock, e que alguém está disposto a fazer de tudo para possuir seu conteúdo misterioso. Ele acaba descobrindo que um dos homens que conhecera, o misterioso Sakharine, sabe mais a respeito do segredo oculto na miniatura do que gostaria de revelar e não medirá esforços para obtê-lo, ainda que para isso precise matar. Em muitas idas e vindas, Tintim eventualmente conhece o capitão Haddock, neto de Francis e último elo com a lenda do Unicorn. Haddock, porém, tem um sério problema com bebidas e está longe de ser a pessoa mais aconselhada a auxiliar Tintim em desvendar o mistério do navio. É o começo de uma longa jornada por terra, mar e ar, onde Tintim, seu inseparável cachorro Milu e Haddock farão de tudo para impedir Sakharine de atingir seus cruéis intentos.

Jamie Bell empresta sua movimentação a Tintim, enquanto Haddock é interpretado pelo rei da captura de movimentos Andy Serkis. Daniel Craig ficou responsável pelo vilão Sakharine, e Nick Frost e Simon Pegg dão vida aos detetives Dupond e Dupont, personagens clássicos dos quadrinhos de Hergé. O roteiro é bastante fiel ao espírito das histórias de Tintim, misturando lendas do passado com aventuras ao redor do mundo e muitos momentos de humor. Existem cenas, porém, que são bem mais fortes do que é padrão em animação familiar, como por exemplo um assassinato, contendo até mesmo um pouco de sangue. Isso, porém, não deixa o filme nem um pouco inadequado para crianças e funciona muito bem como diversão para a família. A mixagem de som está perfeita, um espetáculo a parte, e John Williams faz uma trilha bastante memorável aqui. Mas sem dúvida, é o design do filme que mais chama a atenção. Sendo o meio termo entre a animação clássica e os filmes com atores e cenários reais, o que se vê na tela é simplesmente um filme de beleza raríssima, com cenas com uma riqueza de detalhes de tirar o fôlego. Tintim é uma aventura visual a parte, algo nunca antes visto no cinema de animação.

As Aventuras de Tintim é provavelmente o melhor filme de Spielberg desde AI: Inteligência Artificial - e de lá pra cá ele faz algumas coisas bem estranhas, como diria Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. Se animações já costumam ter apelo para públicos de todas as idades, quem cresceu acompanhando as missões do repórter e aventureiro pelo mundo vai ficar bem satisfeito com a transição do personagem para as grandes telas. E até mesmo quem não conhece nada do personagem vai com certeza se divertir com um filme agradável, de espírito leve, história tocante e cenas de ação brilhantemente executadas. O posto de melhor animação de 2011 tem um vencedor indiscutível e de muito mérito.

Nota: 5,0 de 5,0.

2 comentários:

  1. Vou te falar que As Aventuras de Tintim são melhores que algumas das animações da Pixar, e isso pode ser considerado o melhor elogio que eu posso dar a uma animação.

    Ao acordar hoje, a primeira coisa que fiz foi assistir ao Caçadores da Arca Perdida. Saí do cinema com a sensação de o Spielberg de Caçadores ter voltado. Há muito tempo eu não via uma animação tão boa, um filme tão bom. Na verdade, nunca vi cenas de ação tão envolventes e incríveis quanto as de As Aventuras de Tintim. Acho que as cenas de ação que chegam mais perto são as de Indiana Jones (da trilogia original, claro).

    Nota 5 de 5? Merece uma nota 6, 7, 10, 42... Fui ao cinema com medo de me decepcionar e saí de lá empolgadíssimo!!!

    Que venham logo as continuações!

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  2. "E até mesmo quem não conhece nada do personagem vai com certeza se divertir com um filme agradável, de espírito leve, história tocante e cenas de ação brilhantemente executadas." Ó, eu aí! *-*
    Filme realmente surpreendente: mostrando que qualidade e cinema de entretenimento não precisam ser coisas excludentes. Way to go Spielberg!

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