O Espião que Sabia Demais é um projeto com vários nomes envolvidos que me empolgaram logo de cara: Gary Oldman, Colin Firth, Tomas Alfredson e John le Carré. Apesar da distribuição limitada nos cinemas do Rio de Janeiro, pude conferir hoje o filme e formar minhas próprias opiniões. Tomas Alfredson dirigiu Deixa Ela Entrar, provavelmente o melhor filme de terror dos últimos anos e responsável por jogar ar fresco em um tema abordado exaustivamente recentemente, os vampiros. Sendo assim, minhas expectativas para seu novo filme estavam altíssimas e, de fato, não me decepcionei. Há algumas falhas óbvias em O Espião que Sabia Demais, é verdade, mas elas não impedem Alfredson de entregar um thriller com um roteiro intrigante e bem executado.
Ouvi muitas vezes, nos últimos tempos, que a atuação de Gary Oldman nesse filme era a melhor de toda a sua carreira. Agora, posso dizer com verdade: eu assino embaixo. Não espere, com isso, uma atuação vibrante, passional. Oldman conduz seu George Smiley de maneira quase introspectiva, com a frieza de um espião a serviço por décadas e que teve que aprender a enjaular seus sentimentos dentro de si. Smiley é um homem discreto e controlado, e justamente a dificuldade de fazer o público sentir empatia e entender as motivações do personagem é que torna o trabalho de Oldman, que cumpre essas missões com louvor, tão completo. É uma pena que Oldman esteja sendo quase que completamente ignorado ao longo da temporada de premiações.
A história do filme, baseada no best-seller de John le Carré, se passa em 1973, em um dos períodos mais tensos da Guerra Fria. Smiley, um espião veterano da agência de serviço secreto britânica Circus, é forçado a se aposentar após uma missão comandada por seu chefe, Control (John Hurt), dar muito errado, fazendo os dois caírem juntos. A aposentadoria de Smiley não dura muito, já que ele é chamado para voltar a ativa após a morte de Control, com o objetivo de entrar em contato com o agente Ricki Tarr (Tom Hardy), um espião infiltrado na União Soviética e que teria descoberto a existência de um agente duplo no alto escalão do Circus, suspeita que Control compartilhava. Seguindo as pistas deixadas por seu ex-chefe, as suspeitas de Smiley caem sobre quatro figurões do Circus: Percy Alleline (Toby Jones), o "Funileiro", Bill Haydon (Colin Firth), o "Alfaiate", Roy Bland (Ciáran Hinds), o "Soldado", e Toby Esterhase (David Dencik), o "Pobre" (os apelidos são baseados numa canção tradicional americana). Smiley precisa adotar à risca o lema "não confie em ninguém" e descobrir o mais rápido possível a identidade do traidor.
Por Deixa Ela Entrar já é possível perceber que Alfredson não é um fã de montagens alucinadas, no melhor estilo Danny Boyle ou Quentin Tarantino. Seus filmes seguem um ritmo quase leve, não importa o quão pesado seja o tema, e O Espião que Sabia Demais não foge à regra. Isso faz com que o filme demore um pouco a pegar no tranco, mas uma vez iniciado ele se torna realmente interessante. A fotografia de Hoyte van Hoytema, antigo colaborador de Alfredson, é extremamente "Guerra Fria", com predominância do azul e do preto, o que ajuda e muito a compor o clima do longa. Porém, existem dois problemas no roteiro que chamam a atenção. O próprio le Carré manifestou preocupação com a dificuldade em resumir um livro tão complexo e cheio de personagens em um filme de duas horas. Os roteiristas conseguem fazer um bom trabalho, mas ainda assim no fim do filme ouvi comentários no cinema como "Achei muito confuso" ou "Preciso ver de novo para entender". De todas as formas, isso não chega a ser uma falha do roteiro, mas sim ajuda na hora de ressaltar que o filme é mais recomendado para quem já tem uma intimidade ou com o assunto espionagem, ou com a obra de John le Carré. Outro ponto digno de observação, esse sim um problema estrutural, é que o final do filme chega ser praticamente anticlimático de tão simples e abrupto. Contudo, O Espião que Sabia Demais consegue ser maior que esses pequenos problemas, e é daqueles filmes obrigatórios para os fãs do gênero.
Nota: 4,0 de 5,0.
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