Em tempos em que os efeitos visuais cada vez mais parecem assumir a direção dos blockbusters em detrimento de uma boa história, John Carter, produzido pela Disney, é um alívio vindo na hora certa. Baseado no personagem criado para uma série de livros por Edgar Rice Burroughs, mais conhecido aqui no Brasil por outra criação, o Tarzan, o filme marca a estreia na direção de um filme em live-action de Andrew Stanton, que já fez pela Pixar Vida de Inseto, Procurando Nemo e WALL-E. Confesso que fui para o cinema sem esperar muita coisa: um visual bonito, certamente, mas não mais que isso de qualidades. A quantidade de filmes genéricos que misturam ação e ficção fez uma impressão muito negativa em mim nos últimos tempos. E bem, se o visual impressiona, como esperado, a boa surpresa é que John Carter vai além e se revela entretenimento de qualidade.
A trama é contada com base na leitura do diário do personagem-título (Taylor Kitsch) por seu sobrinho, ninguém menos que o próprio Burroughs (Daryl Sabara). Carter é um capitão aposentado do exército americano na época da Guerra de Secessão. Amargo devido a uma serie de perdas em seu passado, ele começou a buscar ouro no promissor território do Arizona, tentando se manter o mais distante possível da guerra. Porém, uma cadeia de eventos o leva até uma caverna com símbolos estranhos que parece afastar os índios. Lá, ele tem um misterioso encontro e acaba tomando posse de um artefato que o transporta imediatamente para Marte (Barsoom, como o planeta é conhecido por seus habitantes).
Uma vez lá, Carter acaba capturado por uma raça de alienígenas chamados Tharks, que lembram muito em seus modos os espartanos da Grécia Antiga (como minha amiga Vanessa bem apontou - obrigado por isso!). Carter, contudo, cai nas graças de Tars Tarkas (Willem Dafoe), líder dos Tharks, e acaba conquistando aos poucos um lugar na tribo. Porém a vida em Barsoom não anda nada fácil: o planeta está secando e a água está virando item de luxo. Para piorar, um guerreiro tirano, Sab Than (Dominic West), ganhou poderes especiais concedidos por seres místicos chamados Therns, que parecem ter interesses bastante escusos por trás desse presente, e está usando sua nova força para subjugar todo o planeta. Apenas o reino de Helium ainda mantém alguma resistência, o que está para mudar, pois seu rei (Ciarán Hinds) prometeu sua filha, a princesa Dejah (Lynn Collins), em casamento a Sab Than em troca da paz. Percebendo que as coisas não são tão simples, a princesa Dejah foge e acaba encontrando, eventualmente, John Carter. Aos poucos, o pacifista começará a tomar para si a responsabilidade de lutar por Barsoom, e essa nova missão mudará e muito antigos conceitos seus - e até mesmo sua certeza de que quer voltar para casa.
Você, caro leitor, provavelmente ouvirá muito de John Carter nos próximos dias. Em especial, provavelmente verá muita gente traçando paralelos do filme com Avatar. Não se deixe levar por isso, o filme é baseado num clássico da literatura e tem seus méritos próprios. É verdade que seu enredo não é absolutamente nada de inovador, partindo de vários lugares-comuns do universo da ficção científica, mas seu roteiro ágil e e competente e a direção de Stanton garantem boas duas horas de diversão. Os efeitos especiais agradam, a fotografia valoriza as terras desérticas de Marte e, em especial, a direção de arte dá o show que se espera. Tecnicamente de encher os olhos, o longa traz uma leveza em seu desenrolar que parece faltar nos seu semelhantes. Realmente há uma história agradável sendo contada, de modo que em momento algum se deixa que a narrativa passe a se apoiar nos efeitos visuais.
O filme pode, é verdade, soar um pouco bobinho para alguns telespectadores. O próprio nome da Disney atachado à produção indica que ela é, antes de tudo, um entretenimento bastante familiar, que vai tentar agradar todos os gostos e evitar constrangimentos. Mas isso não diminui em nada o divertimento que o resultado final oferece. Extensamente baseado em Uma Princesa de Marte, primeiro livro da série de Burroughs, o longa também abre um gancho claro para a criação de uma franquia - a série total, para se ter uma ideia, tem 11 livros, então material para inspiração não falta. Quanto a isso, o tempo dirá, mas fica a torcida para os blockbusters de 2012 manterem a qualidade desse aqui.
Nota: 4,0 de 5,0.
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