segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Análise: A Árvore da Vida

Terrence Malick é um dos diretores mais reservados e misteriosos de Hollywood. Com 68 anos e uma carreira de quase 40, Malick dirigiu apenas cinco filmes até o momento, todos eles grandes sucessos de crítica. Portanto, quando ele anunciou que iria lançar o quinto, A Árvore da Vida, o frisson não foi pouco entre os fãs do diretor. A produção do filme não foi fácil, muito menos encontrar um distribuidor. Depois de vários adiamentos e dois anos depois da data marcada, o filme foi enfim lançado pela Fox no meio desse ano. O resultado dividiu opiniões de uma maneria bastante ácida. De fato, é impossível sair indiferente à Árvore da Vida. Ele pode muito bem servir daqui para frente como modelo de comparação de filmes que ou se ama, ou se odeia.

No meu caso, eu amei.

O roteiro, é impossível negar, é extremamente simples - tanto que para alguns, o filme sequer roteiro tem. O arquiteto Jack O'Brien (numa participação à jato de Sean Penn) sempre teve uma relação difícil com o pai. Por meio de seus flashbacks, acompanhamos sua infância convivendo com o pai rigoroso e agressivo (na melhor interpretação da carreira de Brad Pitt, o que não é pouco) e buscando alívio na figura da mãe passiva (interpretada pela relativamente desconhecida e arrebatadora Jessica Chastain - Academia, por favor, ela merece o Oscar desse ano, não me decepcione como sempre). Jack e seus dois irmãos mais novos tentam levar a melhor vida possível como crianças e, posteriormente, adolescentes em um típico subúrbio americano dos anos 1950, mas as tensões dos filhos com o pai levarão a uma alienação irreversível, que culmina com o suicídio de um dos irmãos de Jack (não é spoiler, o filme tem o suicídio como ponto de partida).

As escolhas de Malick na direção não são convencionais. Ele intercala a história do filme, propriamente dita, com cenas da criação do mundo, da evolução da vida na Terra e visita até mesmo a época dos dinossauros. Em meio a tudo isso, imagens de uma espécie de força ou luz aparecem constantemente quase como divisores das partes do filme. Não espere explicações de Malick para nada disso. Se a luz é Deus como muitos teorizaram ou algo completamente diferente, o roteiro não está preocupado em deixar claro. A Árvore da Vida é um filme para ser sentido, mais do que entendido. Mais do que um filme sobre fé ou espiritualidade, porém, eu acho que esse é um filme sobre o perdão, sobre como relações humanas são as coisas mais belas, delicadas e frágeis, e como é preciso todo cuidado e até mesmo uma certa coragem para preservá-las.

Tecnicamente falando, o filme é impecável. A fotografia é simplesmente a mais bonita e eficiente que já vi. Minhas congratulações, Emmanuel Lubezki, você fez o trabalho de uma vida aqui. A montagem, por sua vez,  é dinâmica e os efeitos especiais são um espetáculo à parte. Malick tem uma direção segura e precisa e consegue extrair o melhor de seus atores, não só dos veteranos Brad Pitt e Sean Penn como também dos novatos Jessica Chastain e Hunter McCracken.

Malick pode até não ter feito o melhor filme de todos os tempos, como alguns mais empolgados proclamaram por aí, mas sem dúvidas fez o melhor e mais emocional filme de 2011.

Nota: 5.0 de 5.0

2 comentários:

  1. Gabriel, eu te nomeio meu novo crítico brasileiro de cinema favorito.

    Que bela análise!

    "A Árvore da Vida é um filme para ser sentido, mais do que entendido."

    Faço das suas as minhas palavras. Para mim é o filme do ano. Tecnicamente, como você disse, é impecável.

    Por passar longe da lógica que Hollywood nos incutiu, pode ser mal entendido. Mas é indo de encontro a esse tipo de cinematografia (sem medo de me apoiar agora no arcabouço teórico de Deleuze) que Malick usa o cinema como experimentação do pensar.

    Pessoalmente, o filme me tocou de modo ímpar.
    A tal ponto de me fazer reavaliar, entre tantos conceitos sedimentados, meus pensamentos sobre a fé.

    ResponderExcluir
  2. Agora não tem jeito. Eu relutei, mas vou ter que assistir!

    ResponderExcluir