sábado, 28 de janeiro de 2012

Análise: Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras

A adaptação de Guy Ritchie para o cinema do famoso detetive criado por Arthur Conan Doyle é um ponto polêmico entre os fãs do personagem. Inegavelmente, os filmes do diretor de Sherlock Holmes criam um personagem completamente diferente dos livros - em especial, os filmes mostram um Holmes lutador talentoso e de sangue frio, enquanto na obra de Doyle o detetive raramente entra em um confronto físico com os vilões de suas histórias. Apesar das polêmicas, o primeiro filme de Holmes foi um grande sucesso e é um excelente filme de ação, embora para isso tome todas as liberdades imagináveis com o personagem. Vou deixar claro desde já: eu, como fã do personagem e da obra de Doyle, não ligo absolutamente por um segundo para a adaptação do detetive. Trata-se de uma opção de estilo, que deixa o personagem mais acessível, é verdade, mas que teve seus méritos e conseguiu criar, à sua maneira, um resultado interessante. Mas vamos nos ater ao ponto em questão, o segundo filme da nova saga do detetive. O Jogo de Sombras é uma continuação que mantém as características implementadas no primeiro filme, empolgando em muitas sequências, mas contendo claros momentos de irregularidade.

Passado em 1891, o filme mostra a caçada de Holmes (Robert Downey Jr., feito sob medida para o personagem imaginado por Ritchie) ao gênio do crime Prof. Moriarty (Jared Harris). Moriarty é o responsável por uma série de atentados pela Europa, por motivos que vão ficando mais claros ao desenrolar do filme, e Holmes toma para si a missão de tentar impedir os cruéis feitos do vilão. O detetive porém, está sozinho nessa missão - e, por extensão, sentindo-se assim nos outros momentos de sua vida -, já que seu melhor (e único) amigo, o Dr. Watson (Jude Law), está às vésperas de se casar com sua noiva, Mary (Kelly Reilly). Watson, porém, não está tão seguro quanto julgava, já que Moriarty o tem também sob sua mira, devido à sua associação de longa data com Holmes. Enquanto tenta proteger o amigo e desbaratar os esquemas de Moriarty, Holmes acaba cruzando no caminho da cigana Sim (Noomi Rapace, a Lisbeth Salander da versão sueca de Os Homens que Não Amavam as Mulheres), que parece também estar sendo procurada por Moriarty por alguma razão.

Vamos começar pelos pontos positivos: o filme, apesar dos seus desvios e liberdades, é razoavelmente mais fiel à obra de Doyle do que o primeiro. Não só apresenta vários personagens das histórias de Holmes, como o seu arqui-inimigo Moriaty, outro vilão famoso, Sebastian Moran (Paul Anderson), o irmão de Sherlock, Mycroft (Stephen Fry), e uma breve nova aparição de Irene Adler (Rachel McAdams), como seu roteiro é inspirado indiretamente por O Problema Final, um dos contos mais famosos de Holmes. O final do filme, inclusive, sem querer entregar muito, mas talvez já entregando, é todo adaptado do desfecho do conto. Moriarty também funciona muito melhor como antagonista do que o vilão genérico de Mark Strong no primeiro filme, embora haja um certo fator afetivo com relação aos livros que influencie nisso. E muitas técnicas usadas por Ritchie, como o slow motion em sequências de ação extrema, voltam a aparecer bem empregadas aqui.

Mas, infelizmente, nem tudo são flores. O roteiro do filme, como um todo, não tem a mesma empolgação do seu antecessor, talvez por não apresentar um caso específico, como também por conter alguns momentos muito arrastados, em especial no começo. E apesar desse filme apresentar mais efeitos especiais do que o primeiro, fiquei com a sensação de que os do original eram mais bem-acabados e inovadores. Em alguns momentos há uma sensação nítida de que o trabalho de efeitos especiais foi feito às pressas e não dialoga bem com a montagem do filme, em si. Parece que, no geral, Ritchie foi menos cuidadoso nos detalhes e acabamento aqui, o que interfere um pouco no quadro completo. Isso não atrapalha a missão do longa, que é antes de tudo entreter. Algumas sequências são realmente interessantes e em muitas vezes a tensão do filme é transmitida com sucesso ao espectador - a parte final do filme é definitivamente vibrante. Porém, é difícil afastar a sensação de que poderia ter sido melhor, com um roteiro mais afiado e uma decisões de direção mais acertadas. Mas não se engane, se você gostou do primeiro, há grandes chances de se sentir satisfeito com o segundo, também.

Nota: 3,5 de 5,0.

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