segunda-feira, 26 de março de 2012

Análise: Jogos Vorazes

Adaptar livros é uma das maiores tendências cinematográficas dos últimos tempos. Isso em alguma medida sempre aconteceu (é só pensar que E o Vento Levou..., um dos primeiros clássicos do cinema, é uma adaptação de um romance), mas a cada ano parece que a maior parte dos lançamentos mais comentados se encaixa nesse estilo. Não tenho nada contra. Desde que bons filmes sejam produzidos assim, acho um recurso válido. Alguns livros, contudo, são extremamente difíceis de serem transferidos para as grandes telas, seja por seu conteúdo, seja por sua própria natureza literária particular, já que cinema e literatura são, a princípio, linguagens diferentes em essência. Assistindo Jogos Vorazes, não pude deixar de admirar as pessoas envolvidas na produção do filme. As particularidades do original, um texto que toca em temas delicados, brutais e com características extremamente sombrias tornavam sua versão cinematográfica algo bastante complicado. A equipe liderada pelo diretor Gary Ross, entretanto, conseguiu superar esses problemas e fazer um trabalho excelente, que já está sendo alardeado por algumas pessoas como uma das melhores adaptações dos últimos tempos.

A história do filme se passa em uma realidade pós-apocalíptica, onde o que era a América do Norte foi transformado em uma nova nação chamada Panem. No passado, os 13 distritos de Panem se rebelaram contra a capital protestando por causa de suas condições miseráveis. A revolta foi contida e, como lembrete de sua supremacia e aviso para possíveis novas revoltas, a capital instituiu os Jogos Vorazes. Os Jogos funcionam como um programa de televisão no formato de reality show onde todo ano um garoto e uma garota de cada distrito, de uma faixa que vai entre 12 e 18 anos, são selecionados para competir em uma arena até a morte, quando o último sobrevivente é aclamado o campeão.

Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) cresceu em meio a esse contexto brutal. Quando sua irmã de 12 anos, Primrose, é selecionada para competir nos Jogos - o que basicamente significa a morte certa -, Katniss toma uma decisão desesperada e se voluntaria para participar no lugar dela. Naturalmente talentosa com o arco - resultado de uma adolescência precisando caçar comida - e dona de uma personalidade marcante, Kat logo se torna uma favorita para vencer os jogos, ao contrário de seu companheiro de distrito, Peeta (Josh Hutcherson). O rapaz logo começa a se incomodar com a atenção oferecida a Kat, por quem está apaixonado, em preterimento a ele. Porém, quando os dois são jogados para valer na arena da competição, tudo muda de figura, em especial quando Kat passa a ser caçada por seus concorrentes devido a seu status de forte candidata. Para piorar, o presidente de Panem, Snow (Donald Shuterland, numa grata participação), está incomodado com a popularidade da garota, que pode inspirar os distritos a novos tumultos, e deixa bastante clara junto à organização do programa sua vontade de que Kat não sobreviva aos Jogos Vorazes.

Antes de mergulhar na análise, duas considerações. Uma é que o filme bateu recorde de público numa semana de estreia, figurando entres as três mais lucrativas aberturas da história do cinema. A outra é que o filme, como a sinopse indica, é razoavelmente pesado para crianças menores e exige um certo discernimento paternal. Agora, ao trabalho: o filme é incrivelmente bem executado. Gary Ross, Billy Ray e a autora Suzanne Collins fazem um roteiro ágil, bem-escrito e que consegue transpor as dificuldades de adaptação da história. O filme é excepcionalmente bem montado, mas depois que descobri que os responsáveis por esse departamento eram Stephen Morrione (ganhador do Oscar pelo maravilhoso Traffic) e Julliette Welfling , minha surpresa se justificou. A trilha assinada por T-Bone e James Newton Howard emociona pra valer, e lembra em alguns momentos o grande Michael Giacchino. Para não dizer que tudo são flores, a estética de câmera tremida que nunca gostei completamente me incomodou razoavelmente no começo, mas me acostumei eventualmente e superei esse porém.

Mas os louros vão, sem dúvida, para Jennifer Lawrence. A atriz já tinha feito bonito (em todos os sentidos - vocês não podem me ouvir, mas estou suspirando aqui) em Inverno da Alma, quando foi indicada ao Oscar. Depois do bom X-Men: Primeira Classe, Lawrence consegue um papel para solidificar sua carreira pós-aclamação e entrega uma atuação à altura da personagem. Além de Shuterland, o elenco também conta com a participação interessantes de nomes como Woody Harrelson e Stanley Tucci. Jogos Vorazes não é um filme fácil de digerir, com uma história que pode parecer bastante difícil de conciliar a princípio, mas o longa é consistente, tem uma mensagem poderosa e relevante e faz o ingresso valer muito a pena. É um ótimo começo para uma franquia, que pode render ainda bons frutos no cinema.

Nota: 5,0 de 5,0.

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